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Uma riqueza ainda sem valor

Nos últimos anos, observam-se grandes esforços visando o aproveitamento de coprodutos e de resíduos agrícolas como fonte de matéria-prima para a indústria ou geração de energia elétrica. Um dos objetivos é agregar valor às cadeias agroindustriais, valorando insumos que antes não possuíam valor de mercado. Os resíduos agrícolas são biomassa proveniente de processos da agricultura, porém este setor possui dificuldades na conciliação com a produção de alimentos e na estruturação de sua oferta para o uso industrial.

Segundo a Embrapa, a geração de resíduos agrícolas nas atividades de cultivo e colheita é extremamente variável, dependendo muito da safra e do sistema de produção a ser considerado. Isso significa estruturar uma logística capaz de armazenar, controlar e movimentar produtos durante todas as etapas do ciclo de produção agrícola, considerando a alta variação sazonal. Deve-se considerar que, em contrapartida, as demandas de matéria-prima para o uso industrial e do produto para o mercado consumidor apresentam um comportamento mais contínuo ao longo do ano.

Como exemplo da viabilidade de aproveitamento da biomassa, a cadeia da soja possui um mercado final já consolidado para toda sua cultura agrícola. Ou seja, todo o complexo de soja, com grãos, farelo e óleo, possui uma demanda no mercado interno e/ou externo. Assim não se pode considerar que exista um resíduo significativo não aproveitado na produção de soja.

Será que não somos capazes de replicar esse aproveitamento para outras culturas e seus respectivos resíduos?

A cana-de-açúcar já possui tecnologia madura para diferentes produtos, como açúcar, biocombustível (no caso o etanol de primeira geração), fertilizantes, com o aproveitamento da vinhaça, e energia elétrica, através da cogeração pela queima do bagaço. Porém, essa cadeia possui um grande potencial ainda não explorado, principalmente através dos açúcares contidos no bagaço e na palha da cana. O esquema abaixo ilustra alguns desses potenciais.

Figura 1

Figura 1 – Potenciais de aproveitamento da cana-de-açúcar

Fonte: ILOS

A palha de cana-de-açúcar usualmente era queimada para facilitar a colheita manual. Porém, tal prática está para ser extinta, devido a regulamentação prevista na Lei 11.241, que a proíbe. Desse modo, esse resíduo passa a ser considerado insumo para outras finalidades, como adubo nas lavouras, aproveitamento energético ou como uso de matéria-prima na indústria.

Para avaliar a disponibilidade real dos resíduos da cana-de-açúcar, levando em conta técnicas de colheita e transporte dessa palha, um estudo do BNDES considera a premissa de geração de 167 kg de palha e 270 kg de bagaço para cada tonelada de cana-de-açúcar colhida. Isso significa que na última safra da cana-de-açúcar, 2014/2015, foram produzidas mais de 300 milhões de toneladas desses resíduos agrícolas. Ou seja, milhões de toneladas produzidas anualmente ainda sem valor para o mercado, escondendo uma grande fonte de riqueza.

Figura 2

Figura 2 – Volume de palha e bagaço gerado na última safra de cana-de-açúcar

Fonte: IBGE e BNDES

Engatinhando nesse assunto, em meio a uma tímida retomada do setor sucroenergético, produtores canavieiros rurais agora querem receber das usinas uma remuneração pela geração de energia elétrica obtida por meio da queima do bagaço da cana-de-açúcar. O objetivo é discutir a viabilidade de incluir essa remuneração no pagamento aos produtores e, também, saber quanto vale essa riqueza que antes era vista somente como um resíduo.

Em entrevista à Folha Online, Celso Torquato Junqueira Franco, presidente da UDOP (União dos Produtores de Bioenergia), afirmou que a demanda dos produtores é justa, pois a energia elétrica era um produto inexistente no passado na cadeia produtiva. “Nosso potencial de geração de energia do bagaço da palha da cana atualmente é equivalente a 18% da energia no país. É muito próximo ao volume que as termelétricas geraram nos últimos dois anos de forma ininterrupta, mas a um custo ambiental e econômico altíssimo”, disse.

A disponibilidade energética da cana-de-açúcar fica evidente ao fazer uma comparação do conteúdo energético de sua tonelada, 1.718.000 kcal, com o potencial energético de um barril de petróleo que é de 1.386.000 kcal. Ou seja, uma tonelada de cana equivale energeticamente a 1,24 barris de petróleo bruto. Caso o pagamento seja aprovado, a energia gerada entra nos cálculos do Consecana (Conselho dos Produtores de Cana de São Paulo), órgão responsável pela avaliação dos preços a serem pagos pela cana, levando em conta custos e as receitas geradas pelo etanol e açúcar.

O caso dos produtores rurais de cana é só a ponta de um imenso iceberg. Quantos resíduos estão espalhados, tanto em zonas rurais como urbanas, ainda sem valor algum? Qual será a viabilidade de utilizarmos esse material com as novas tecnologias que estão sendo desenvolvidas? Qual o valor do seu lixo, do seu rejeito? Qual a importância do Supply Chain neste contexto de geração de valor? Essas e outras perguntas ainda estão em aberto, mas talvez não por muito tempo. Mas isso é assunto para outro post.

 

Referências

<http://www.novacana.com/estudos/biorrefinaria-futuro-para-o-completo-aproveitamento-da-biomassa-de-cana-241013/>

<http://m.folha.uol.com.br/mercado/2015/11/1711353-produtores-agora-querem-receber-por-energia-gerada-da-palha-da-cana.shtml?mobile>

<ftp://ftp.ibge.gov.br/Producao_Agricola/Levantamento_Sistematico_da_Producao_Agricola_[mensal]/Fasciculo/lspa_201501.pdf>

<http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/export/sites/default/bndes_pt/Galerias/Arquivo>

<http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/export/sites/default/bndes_pt/Galerias/Arquivos/conhecimento/bnset/set804.pdf>

<http://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/bitstream/doc/952626/1/DOC13.pdf>

<http://governo-sp.jusbrasil.com.br/legislacao/129474/lei-11241-02>

<http://www.novacana.com/etanol/logistica-infraestrutura-transporte/>

<http://www.novacana.com/n/cana/variedades/encontrar-melhor-cana-acucar-granbio-inverso-090513/>

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