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Reuso de embalagens: necessidade latente e oportunidade de negócio


O reuso de embalagens é uma das grandes vertentes da economia circular – modelo econômico que preza pela produção sustentável de bens e serviços, com a otimização do uso de recursos e com a redução dos resíduos gerados. O termo “circular” sugere o conceito de reuso, se opondo ao modelo tradicionalmente linear em que extraímos recursos, produzimos, consumimos e jogamos fora. É claro que podemos reciclar os materiais, e a reciclagem exerce um papel relevante, mas não é suficiente. Mesmo que certos gargalos sejam superados, a quantidade de lixo que geramos é monstruosa. Daí a necessidade de soluções circulares, que cortam o problema pela raiz ao alterar os padrões e formatos atuais de consumo.

Em 2017, a primeira análise global sobre a produção de plásticos foi publicada no journal Science Advances. O estudo determinou que até então tínhamos produzido 8,3 bilhões de toneladas de plástico, e que, até 2015, foram geradas 6,3 bilhões de toneladas de resíduos plásticos, sendo que apenas 9% foram reciclados, 12% incinerados, e 79% foram se acumulando em aterros ou no meio ambiente. Se esta tendência for mantida, a estimativa é que o acúmulo chegue a 12 bilhões de toneladas de resíduos plásticos em 2050. Se enchêssemos carretas com esse volume de lixo e colocássemos uma do lado da outra, conseguiríamos dar 200 voltas ao redor da Terra! É tanto lixo que, mesmo tentando colocar em escala, ainda fica difícil de tangibilizar.

Hoje, grande parte das embalagens são utilizadas apenas uma vez antes de serem descartadas. Assim, a problemática do reuso de embalagens é um dos principais pontos que precisa ser atacado para construirmos um mundo mais sustentável. Porém, a temática não é só ambiental. Em 2019, a Ellen McArthur Foundation estimou que converter 20% das embalagens plásticas em modelos reutilizáveis soma uma oportunidade de negócios da ordem de 10 bilhões de dólares.

O assunto, seja pela relevância ambiental, social ou econômica, não é de hoje. Uma das formas que o problema tem sido abordado é através de supermercados sustentáveis, sem embalagens e com vendas a granel. Recentemente, o Henrique Alvarenga falou sobre a alemã Original Unverpakt, criada em 2014. Hoje, há cerca de 500 supermercados no mundo que seguem o conceito de desperdício zero, e você pode consultar a base de dados levantada pela Bepakt.

Nos últimos anos, temos visto muitas iniciativas no mercado. Em 12 de agosto de 2020, a Nivea anunciou o teste de quiosques para refil de sabonetes líquidos para banho. O teste está sendo feito na Alemanha em parceria com uma rede de drogarias, em farmácias selecionadas. O processo envolve uma máquina, a estação de refil e funciona da seguinte maneira: o consumidor pega uma embalagem vazia da estação, a enche com uma das duas opções disponíveis de sabonete, e uma etiqueta é impressa para que se possa fazer o pagamento. Na próxima compra, o consumidor traz a embalagem para reuso, e esse processo de refil pode ser feito até três vezes, por questões sanitárias (há um código de barras especial para garantir que o limite seja respeitado). Quando a embalagem atinge o nível máximo de reuso, o cliente a entrega no caixa e, em troca, recebe uma nova embalagem e ganha um refil gratuito.

Também em 2020, no fim de maio, a Nestle começou a testar estações de refil de rações pet e de café solúvel em três lojas da sua marca na Suíça. Em 2019, vimos a parceria da Unilever com a Algramo, startup chilena que vende produtos alimentícios e de higiene através de máquinas de refil e também através de unidades móveis, que circulam por bairros enchendo garrafas reutilizáveis de produtos como OMO. No mesmo ano, a The Body Shop (comprada pela Natura em 2017), também testou uma estação de refil em Londres. O fator sustentabilidade se faz especialmente forte na indústria de beleza e cosméticos, principalmente no relacionamento da marca com as gerações mais novas, que já entraram em mundo no qual a informação é instantânea e todos estão interconectados.

Apesar das diversas iniciativas que temos visto serem animadoras, não podemos deixar de mencionar os desafios que esses novos modelos trazem para o supply chain. Como já mencionado pelo Henrique Alvarenga, o formato de venda a granel poderia exigir a revisão dos formatos de armazenagem nos centros de distribuição, de quais equipamentos são necessários para carga e descarga nos CDs e nos PDVs, do processo de reabastecimento das gôndolas nos supermercados… E isso tudo garantindo o atendimento das normas de vigilância sanitária. No caso das estações de refil, há ainda o próprio supply chain dos equipamentos, que são máquinas pesadas e de grandes dimensões. Repensar as etapas das cadeias de suprimento seria fundamental para que esses formatos de venda se tornem escaláveis.

Há ainda uma consideração muito anterior à adaptação do supply chain, que é o entendimento da jornada do consumidor. A sociedade atual é sim mais consciente e mais exigente quando o assunto é sustentabilidade, mas nenhuma solução ganha adoção em massa se não for conveniente ou se não resolver algum problema deste consumidor. Na verdade, há mais lados nessa equação do que somente as pessoas, pois há também a figura do varejista. Quantas máquinas de refil são suficientes para não gerar filas no supermercado de pessoas esperando para encher as embalagens? Quantos funcionários a mais os supermercados vão precisar para lidar com eventuais problemas com essas máquinas, ou para realizar a venda a granel? Quais varejos efetivamente possuem espaço de loja disponível para ter diversas máquinas?

Uma iniciativa que aborda o problema de outra forma é a plataforma Loop, desenvolvida pela Terracycle em um esforço de quase um ano junto a gigantes de bens de consumo como P&G, Nestle, Pepsico, Unilever, Danone e Mondelez. A plataforma, que começou os pilotos em maio de 2019, fornece um serviço de delivery de produtos em embalagens reutilizáveis, e inclui também a coleta e a limpeza dos recipientes. As embalagens são projetadas para cerca de 100 usos, e o modelo envolve um depósito por parte dos consumidores, o qual é devolvido para a conta dos clientes quando as embalagens são retornadas. Além da sustentabilidade, a plataforma está conquistando os consumidores também pela estética das embalagens. O quesito design tem sido um grande chamariz para atrair clientes.

A plataforma está em expansão no varejo e já opera nos EUA com as redes Walgreens e Kroger, na França com o Carrefour e no Reino Unido com a Tesco. Em breve, as operações se iniciarão também no Canadá, Austrália, Alemanha e Japão. O portfólio limitado foi uma das principais reclamações dos clientes no piloto, o que é resolvido com a venda nos grandes varejistas, pois, mesmo que não haja um produto Loop, o cliente pode fazer a compra do item que normalmente faria. A visão da startup é que o modelo escale de forma similar ao que aconteceu com produtos orgânicos nos EUA, que começaram com pequenas seções dentro dos mercados e foram cada vez mais crescendo em categorias e ganhando mais espaço. Nesse modelo de varejo, o consumidor traz as embalagens para o mercado, sem precisar limpá-las, e já compra produtos embalados direto das prateleiras. No que tange ao supply chain, serão desafiadoras a logística reversa das embalagens e a gestão dos estoques na cadeia. Ainda há muitos desafios, mas a perspectiva é promissora.

Uma das falas do CEO da TerraCycle na Conferência Anual da Personal Care Products Council, realizada em março de 2020, ilustra de forma muito clara o porquê de o programa parecer tão promissor: “Precisa ser o mais próximo possível de um sistema descartável. É preciso parecer descartável, mas ser reutilizável. Então, quando você termina, não tem que limpar, não tem que separar, você joga no lixo e ele é coletado, mas ao invés de ir para um aterro sanitário ou para reciclagem, é reutilizado”. Para efetivamente fazer a diferença, as iniciativas de sustentabilidade precisam ser escaláveis, e é perfeitamente possível, mas não trivial, construir modelos de negócio que sejam rentáveis e sustentáveis. Porém, para ser escalável, é preciso olhar para a jornada do consumidor e tentar resolver seus problemas, do mesmo modo como construímos nossos produtos e serviços para o mercado no mundo empresarial.

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5 anos de experiência em projetos de consultoria em Logística e Supply Chain. Atuou em projetos de otimização de rede logística, custo de servir, plano diretor logístico, definição de política de estoque, previsão de vendas, S&OP (Sales and Operations Planning) e planejamento e gestão de transportes.

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