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Postponement como mecanismo de redução de estoques

Há algumas semanas, o consultor Gabriel Cruz comentou sobre os efeitos da crise econômica brasileira no custo de estoque das empresas. Fatores como a queda da demanda, o aumento do erro na previsão de vendas e a elevação da taxa de juros básica fizeram com que o custo de oportunidade associado a guarda de estoques aumentasse consideravelmente, tornando-se mais uma preocupação para as empresas nesse momento difícil que o país vive. Neste cenário, uma prática de otimização do fluxo do processo logístico pode ajudar as empresas a reduzir a necessidade de estoques e enfrentar esse desafio. Trata-se do Postponement ou, como é conhecido em português, postergação.

O Postponement consiste em adiar o máximo possível qualquer deslocamento e/ou configuração final dos produtos e serviços na cadeia de suprimentos, ou seja, a ordem é aguardar a finalização do produto/serviço até o momento exato da definição do pedido do cliente. A ideia que sustenta este princípio é a de evitar a geração de estoques para uma grande variedade de produtos, postergando as atividades que criam variedade até o momento mais tarde possível.

A prática é conhecida na literatura acadêmica desde os anos 50, mas os relatos de casos de sucesso surgiram com maior intensidade na década de 90. Um dos mais famosos cases de sucesso vem da Dell. A fabricante de computadores pessoais sob encomenda pratica a postergação ao configurar sistemas de microcomputadores de acordo com as variações dos pedidos dos clientes sobre os modelos disponíveis. Assim, ela mantém estoque de poucos modelos e configura o sistema após o pedido do cliente, ofertando uma grande variedade de opções para o mercado, sem afetar seus estoques.

Outro exemplo vem da marca de roupas italiana Benetton. Mundialmente conhecida pelas cores fortes e contrastantes da sua linha de roupas, a Benetton não tinge seus produtos na hora de fabricá-los. Os produtos são, na verdade, transportados e armazenados na cor cinza (fundo neutro), recebendo o tingimento final pouco antes de serem levados às lojas. Tal procedimento permite a empresa reduzir custos e melhorar o nível de serviço percebido pelo cliente, uma vez que a probabilidade de haver peças sobrando em cores indesejadas ou faltando naquelas que são demandas a cada semana pelos clientes é consideravelmente reduzida.

Figura 1 – Marca Benetton é famosa pelas suas roupas de cores chamativas

Fonte: Design Scene

 

A Suvinil, empresa nacional fabricante de tintas, pode ser apontada como uma das primeiras aplicações do postponement no Brasil. O processo da empresa é baseado na produção de 3 a 5 bases de tinta na fábrica e a composição de cores é feita no ponto de venda, através da máquina eletroeletrônica tintométrica, onde é programada a fórmula com a dosagem perfeita de corantes de acordo com a cor especificada pelo consumidor. Com 16 pigmentos é possível chegar a cerca de 2.000 cores. Este procedimento permite a Suvinil obter previsões de venda muito mais acuradas, uma vez a empresa precisa apenas prever a quantidade de latas de tintas vendidas no mês para cada uma das cerca de 5 bases e não de cada uma das 2.000 cores diferentes oferecidas.

Em pesquisa promovida pelo ILOS com empresas brasileiras e publicada no Panorama ILOS – Planejamento no Supply Chain 2015, foi possível perceber a adesão das empresas de diferentes segmentos à prática do Postponement. Empresas do setor químico e petroquímico se destacaram como as maiores adeptas da prática (83%) no país, seguidas do segmento eletroeletrônico e automotivo. Dentre todas as empresas perguntadas na pesquisa, apenas 46% afirmaram incorporar a postergação à estratégia de produção.

Figura 2 – Empresas que incorporam o postponement à estratégia de produção

Fonte: Panorama ILOS – Planejamento no Supply Chain 2015

 

Como indica a pesquisa, o postponement ainda tem muito espaço para crescer no país. A utilização da estratégia de postergação permite às empresas aumentar a acuracidade das suas previsões de venda, uma vez que a modularização de produtos possibilita a previsão de séries consolidadas, mais fáceis de serem previstas. Além disso, a empresa pode manter um estoque de produtos muito menor, sem que isso implique em redução do nível de serviço. Pelo contrário, o postponement muitas vezes permite que as empresas ofereçam ainda mais opções para o cliente e, principalmente, maior disponibilidade dos produtos que ele realmente deseja, evitando o encalhe de itens causado por vendas aquém do planejado de um determinado produto.

Com o aumento crescente da demanda por customização em massa, é esperado que cada vez mais empresas adotem o postponement em seu processo de negócios, chegando ao ponto das organizações utilizarem impressoras 3D para fabricar o produto no momento em que ocorre a demanda pelo cliente. Este é o postponement levado ao limite, e que parece ser a realidade do futuro. Para o presente, reduzir os níveis de estoque e os custos logísticos já é uma vantagem e tanto!

 

Referências

<https://ilos.com.br/web/juros-e-recessao-inimigos-do-custo-de-estoques/>

<https://ilos.com.br/web/analise-de-mercado/relatorios-de-pesquisa/planejamento-no-supply-chain/>

SAMPAIO, M. O poder estratégico do postponement. Tese (Doutorado em Administração) – Escola de Administração do Estado de São Paulo, Fundação Getúlio Vargas, São Paulo. 2003. <http://bibliotecadigital.fgv.br/dspace/bitstream/handle/10438/2536/86624.pdf?sequence=2&isAllowed=>

Curso Online ILOS de Gestão de Estoques

Gestão da cadeia de suprimentos / Eduardo Magalhães… [et al.] – Rio de Janeiro: Editora FGV, 2013.

Mais de 11 anos de experiência em projetos de capacitação e consultoria, com foco em Logística e Supply Chain. Em consultoria, realizou projetos como Plano Transformacional de Logística, Diagnóstico das operações logísticas, Estratégia e Calendarização da Operação de Transporte, Mensuração do Custo de Servir, Estudo de Mercado, Mapeamento de Oportunidades de Redução de Inventário, Revisão do Processo de S&OP, Plano de Capacitação e Implementação de Processos Comerciais em empresas como Nestlé, Raia Drogasil, Ipiranga, Lojas Americanas, B2W, Coca-Cola, Andina, Embraco, Martins Atacado, Loja do Mecânico, Santo Antônio Energia, Ecoporto e Silimed. Atualmente é uma das professores do Curso de Gestão de Estoques ministrado semestralmente pelo ILOS. Atuou no desenvolvimento e gerenciamento dos Cursos Online de Logística e Supply Chain, Processos de Suprimentos, Planejamento da Demanda, Gestão de Estoques e Gestão Industrial. Ainda na área de capacitação, foi responsável por aplicar os jogos empresariais do ILOS em empresas como Raia Drogasil, Fibria, NEC, Novartis e Moove.

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