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PESQUISA BENCHMARK 2009 – SERVIÇO DE DISTRIBUIÇÃO – 1ª PARTE

Este artigo está dividido em duas partes. A primeira explora como o ambiente econômico impacta na decisão de compras do comércio junto à indústria de bens de consumo. A segunda parte, analisa as implicações das mudanças no ambiente competitivo em termos das necessidades dos supermercadistas, bem como do desempenho e da qualidade do serviço de distribuição praticado pela indústria.

As análises que seguem estão baseadas nos resultados da Pesquisa Benchmark – Serviço de Distribuição, conduzida periodicamente desde 1994.

Informações Gerais

A Pesquisa Benchmark – Serviço de Distribuição, conduzida periodicamente desde 1994 pelo Centro de Estudos em Logística e depois pelo ILOS, tem contado com o patrocínio de empresas industriais líderes em seus respectivos setores de atuação.

O escopo de pesquisa considera cerca de 600 entrevistas, efetuadas em cinco capitais brasileiras (São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba, Belo Horizonte e Recife), considerando três categorias de produtos: alimentos perecíveis, não perecíveis e higiene e limpeza.

A metodologia avalia oito dimensões (operacionalizadas através de seus respectivos atributos de serviço de distribuição): Disponibilidade de Produto, Tempo de Ciclo do Pedido, Consistência do Prazo de Entrega, Frequência de Entrega, Flexibilidade do Sistema de Entrega, Sistema de Remediação de Falhas, Sistema de Informação de Apoio e Apoio na Entrega Física.

O AMBIENTE ECONÔMICO

O ano de 2008 representou o fim de um ciclo de crescimento econômico expressivo de cinco anos, o qual teve um aumento médio anual do PIB brasileiro de cerca de 4,7% ao ano. Este foi sem dúvida o mais longo período de desenvolvimento econômico sustentado do país desde 1994 – início da série histórica desta pesquisa, que coincidiu com a implementação do plano de estabilização econômica, que reduziu a inflação a níveis razoáveis. No entanto, em face da atual crise global, o país tem experimentado um quadro adverso, que tem implicado na redução da sua atividade econômica desde o último trimestre de 2008, com impactos potencialmente negativos aos agentes pertencentes às cadeias de suprimentos de bens de consumo.

Entre 2004 e 2008, conforme as Tabelas 1 e 2, a economia do país cresceu cerca de 26%, a massa salarial aumentou 55% e as vendas dos supermercados tiveram crescimento de 17% ao longo do período. O ciclo virtuoso deste período transmitia sinais positivos ao longo da cadeia de suprimentos de bens de consumo. O crescimento da economia gerava riqueza para o consumidor, que por sua vez impulsionava as vendas dos supermercados, que consequentemente puxavam a produção industrial.

No entanto, apesar da corrente crise econômica global, não se verificaram impactos tão negativos  quanto era esperado na cadeia de suprimentos de bens de consumo em 2009, conforme aparece na Tabela 1. Apesar da estagnação no crescimento da economia como um todo, observa-se que as vendas dos supermercados aumentaram em cerca de 5,5% em 2009. Isto certamente ocorreu por conta da ampliação da Bolsa Família, do aumento do salário mínimo em 12% e da massa salarial em cerca de 2,5%, bem como pelos incentivos ao consumo que o Governo implementou ao longo de 2009.

Ou seja, as políticas governamentais para enfrentar a crise têm tido resultados positivos para a cadeia de suprimentos de bens de consumo. Porém, com a redução da taxa de crescimento da renda do trabalhador nos últimos três anos e um quadro negativo em outras áreas da economia, espera-se uma mudança do perfil de compras do consumidor, que estaria dando preferência a produtos mais acessíveis em termos de preço.

Cabe às indústrias uma reflexão para melhor posicionar-se no mercado em razão da dinâmica da conjuntura econômica do país e seus impactos nas relações comerciais na cadeia de suprimentos.

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Tabela 1 – Evolução das taxas¹  de crescimento do PIB brasileiro, taxa cambial, rendimento real médio do pessoal ocupado, INPC e das vendas reais dos supermercados
*Previsão
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 Tabela 2 – Evolução das vendas mensais dos supermercados³

 

A Figura 1 apresenta a lógica do fluxo físico de bens entre a indústria e o consumidor, que pode ser feito diretamente, através de atacadista ou por meio de rede varejista. Este último caso consiste no foco da pesquisa realizada.Esta seção abordará os impactos das mudanças do ambiente econômico nas relações comerciais entre participantes da cadeia de suprimento de bens de consumo, conforme ilustrado na Figura 1.2010_01_imagem 04_parte 1

Figura 1 – A cadeia de suprimento de bens de consumo

 

A Figura 2 mostra como a importância relativa das variáveis de decisão de compras² dos varejistas junto à indústria foi se alterando ao longo do período considerado pela pesquisa.2010_01_imagem 05_parte 1

Figura 2 – Evolução do processo de decisão de compras do comércio à indústria

 

Observa-se que nos últimos dois anos houve recuperação da importância do serviço de distribuição no processo de decisão de compras dos varejistas, equiparando-se à variável Promoção e Propaganda. Cabe ressaltar, na Figura 2, que a decisão de compras está centrada cerca de 60% nas varáveis Preço e Produto, a menor relação histórica com as demais variáveis, Serviço de Distribuição e Promoção e Propaganda.

A crescente importância do serviço de distribuição, entre 2006 e 2008, pode ser compreendida na medida em que o aumento de poder aquisitivo da população (de 8,1% em 2007 e 3,4% em 2008 – ver Tabela 2), ao se traduzir em maior consumo, fez com que o comércio desse maior ênfase ao esforço de reposição dos estoques por parte da indústria até as suas gôndolas, concomitantemente a um serviço mais eficiente em termos de consistência, com menores custos.
Dada às mudanças do quadro econômico, espera-se que, ao final de 2009, o preço ganhe força em detrimento do produto, assim como ocorreu no período entre 2001 e 2003.

Isto poderá ocorrer em resposta às mudanças do padrão de demanda do consumidor, ao optar por produtos mais accessíveis, considerando as expectativas comedidas em termos de seu orçamento familiar. É também provável que o serviço de distribuição ganhe espaço como reflexo de uma maior exigência do comércio supermercadista por redução de custos das indústrias.

 

Conclusões

Conforme observado em edições anteriores, o ambiente econômico tem forte infl uência nas relações comerciais entre os supermercadistas e as indústrias de bens de consumo. Portanto, é importante que as indústrias percebam como a crise econômica global atual tem trazido impactos significativos ao mercado, exigindo dos executivos a adoção de abordagens criativas para mitigar consequências negativas nos negócios.

A redução de crédito em 2009 tem colocado em cheque as relações entre os agentes das cadeias de suprimentos, por conta do risco de ruptura do fluxo de produtos e serviços. Este talvez seja um momento muito propício para se avaliar a introdução de iniciativas colaborativas para minimizar os efeitos negativos de um mercado em crise.

O quadro atual, em termos econômicos, tem apontado uma melhora de poder aquisitivo do consumidor em 2009, ao contrário do que se esperava no início deste ano. Isto certamente tem implicado no encadeamento positivo nas relações comerciais entre a indústria de bens de consumo e o setor supermercadista, que tem resultado em aumento substancial das vendas no varejo.

No entanto, a redução da taxa de aumento do poder aquisitivo observada desde 2007 (ver Tabela 1) inevitavelmente implicará em mudanças de padrão de demanda do consumidor, tendendo a priorizar produtos com preços mais acessíveis. Por seu turno, o comércio não só terá que adequar suas compras junto à indústria, como também tenderá a exigir um serviço de distribuição mais eficiente por parte da indústria, na tentativa de compensar uma provável redução em seus resultados.

É importante ressaltar que o serviço de distribuição prestado pela indústria representa uma oportunidade de diferenciação frente à concorrência. Esta observação está coerente com o aumento observado na importância relativa do serviço de distribuição no processo de decisão de compras do comércio.

 

BIBLIOGRAFIA

Fleury, P.F.; Lavalle, C.R.. Avaliação do serviço de distribuição física: a relação entre a indústria de bens de consumo e o comércio atacadista e varejista. Gestão e Produção, vol. 4, nº 2, agosto 1997.

Christopher, M.. Logistics and Supply Chain Management: strategies for reducing costs and improving service. Prentice Hall, 1998.

Bowersox, D.J.; Closs, D.J.. Logística Empresarial: o processo de integração da cadeia de suprimento. Editora Atlas, 2001.

¹Fonte: Conjuntura Econômica, IBGE, RAIS/MTE e ABRAS
²Solicitou-se aos entrevistados que distribuíssem cem pontos entre as quatro variáveis de decisão de compras consideradas (produto, preço, serviço de distribuição física, promoção e propaganda). Uma maior pontuação indica maior relevância. O resultado indica o peso relativo destas variáveis no processo de decisão de compras do comércio junto à indústria. Com o objetivo de manter a compatibilidade dos dados, a análise que segue só considera São Paulo e Rio de Janeiro, pois estes
são os únicos mercados que foram objeto de pesquisa durante as 12 etapas da mesma, entre 1994 e 2006. Os mercados de Recife, Curitiba e Belo Horizonte foram adicionados na segunda, terceira e quarta fase da pesquisa, respectivamente.
³Fonte: ABRAS

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