O estoque possui 5 funções básicas, que são importantes conhecermos para chegarmos no seu melhor dimensionamento. No post As cinco funções dos estoques eu explico as variáveis que impactam cada uma dessas funções. Na ilustração a seguir, você pode ver um resumo disso:
Figura 1: Funções dos estoques. Fonte: ILOS
Neste post, eu gostaria de focar na função estoque de ciclo, que é a mais básica das funções e foi muito afetada pela pandemia em alguns setores.
O estoque de ciclo é aquele necessário para suprir a demanda esperada durante o tempo transcorrido entre sucessivos reabastecimentos. O montante desse estoque é altamente dependente dos tamanhos de lotes de produção, embarques de quantidades econômicas, limitações nos espaços de armazenamento, prazos de reposição e a demanda do ciclo.
Em resumo, o estoque de ciclo serve para atender a demanda entre duas reposições de estoque, ou seja, ele pode ser dimensionado com base na previsão de demanda durante cada ciclo de reposição apresentando o comportamento teórico ilustrado no gráfico a seguir:
Figura 2: Modelo ilustrativo do estoque de ciclo. Fonte: ILOS
Como a COVID-19 afetou muito o comportamento da demanda de vários setores, o estoque de ciclo foi automaticamente afetado também. As previsões de demanda feitas há dois meses não têm mais valor, pois o padrão de consumo da maior parte dos itens mudou completamente. Alguns setores sofreram queda significativa da demanda como moda, combustível, automóvel, hospedagem e passagens aéreas. Outros perceberam um aumento significativo como alimentação, limpeza e higiene. Os gráficos da figura 3 ilustram os efeitos da chegada do novo coronavírus na demanda de alguns segmentos. É fundamental compreender as mudanças mais recentes no comportamento do consumo para ajustar o baseline e refazer as previsões. Para saber mais sobre os impactos da pandemia na previsão de vendas, recomendo assistir a gravação da live Planejamento da Demanda para uma Nova Realidade ou ler o post Como realizar ajustes no planejamento da demanda no pós-pandemia.
Figura 3: Ilustração do efeito do novo coronavírus na demanda. Fonte: ILOS
Nos casos em que a demanda apresentou um aumento significativo com a chegada da pandemia, o estoque de ciclo sofreu uma brusca redução, pois o estoque não foi dimensionado inicialmente considerando esse comportamento. Isso gerou uma grande ruptura na disponibilidade de álcool em gel, máscaras e produtos de limpeza, por exemplo. Agora, se o patamar de consumo foi alterado, ou seja, o aumento não foi apenas um impacto inicial momentâneo, o dimensionamento do estoque de ciclo deve acompanhar esse novo patamar, aumentando os níveis de estoque.
Em outros casos, a demanda sofreu o efeito contrário, apresentando queda de consumo. Para que não haja excessos de estoque, desperdícios e custos, é preciso reduzir os estoques e ganhar eficiência.
A necessidade de estoque de ciclo também é afetada pela frequência de reabastecimento. Alguns setores foram impactados com a redução do nível de serviço de seus fornecedores, por uma série de motivos: redução dos quadros de pessoas, dificuldade de importação, parada de máquinas etc. Nesses casos, a necessidade de estoque de ciclo aumentou, pois agora precisa atender a demanda de ciclos mais longos e aqueles que demoraram para perceber isso, sofreram com a ruptura.
Os efeitos da pandemia, tanto no comportamento da demanda quanto no fornecimento, trazem novos desafios para os planejadores de estoque, que precisam ajustar seus parâmetros de dimensionamento do estoque de ciclo para a nova realidade de quarentena no Brasil e no mundo. E esses ajustes deverão ser cada vez mais frequentes, não apenas durante a pandemia, mas também após, quando novos comportamentos de demanda e um novo mercado fornecedor se estabelecerão. As demais funções do estoque como segurança, trânsito, especulação e pulmão também foram e serão muito afetadas, mas por outros efeitos que eu descreverei nos próximos posts.
Referências:
Live Planejamento da Demanda para uma nova realiddade
Como realizar ajustes no planejamento da demanda no pós pandemia