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DESENVOLVIMENTO DO MERCADO SECUNDÁRIO NO BRASIL E AS OPERAÇÕES DE LOGÍSTICA REVERSA

Como é sabido, dentro do contexto das operações de logística reversa, além das atividades de coleta e transporte, a destinação dos produtos é uma parte importante do ciclo de retorno.

Existem várias alternativas para a destinação dos itens, dentre as quais: outlets, leilões, intermediários, lojas de R$ 1,99, multimarcas, mercados de pulgas, penhor, remanufaturas/reformas e reciclagem.

O presente artigo tem como objetivo trazer uma visão geral do mercado secundário no Brasil, comparando-o com os EUA, tendo em vista que cada vez mais esse tema tem se tornado relevante para as empresas atuantes no país.

 

LOGÍSTICA REVERSA

Os motivadores para a logística reversa estão diretamente ligados a razões competitivas e legais para as empresas. Isto porque a construção de uma cadeia reversa eficiente leva à proteção da marca, redução de custos, aumento da receita e fidelidade dos consumidores.

Contudo, antes de iniciar uma operação de logística reversa, a empresa deve considerar os desafios de gestão e controle, pois se trata de uma operação com maior grau de complexidade que a logística tradicional como mostra a Figura 1.

Figura 1 – Diferenças entre a logística tradicional e a logística reversa

 

Além dos desafios apresentados na Figura 1, a cadeia de logística reversa deve ser mais eficiente em tempo e custo do que a tradicional, para reduzir a perda de valor dos produtos ao longo da cadeia.

Devido à alta complexidade da operaçào reversa, é necessário mapear como a estratégia do negócio está alinhada aos principais direcionadores da logística reversa — posição no ciclo de vida, qualidade, preço, tamanho, estratégia de mercado e destinações possíveis.

 

POSIÇÃO NO CICLO DE VIDA

A origem da logistica reversa está vinculada à posição ocupada pelo produto no ciclo de vida, conforme observado na Figura 2.

Figura 2 – Posição no ciclo de vida e as origens da logística reversa

Preço

Empresas que trabalham com produtos de alto valor agregado, em geral, preferem direcionar as sobras de inventário para canais de venda secundários, como outlets ou multimarcas, a fim de recuperar 0 máximo de valor possível. Isto porque colocar preços promocionais muito baixos para liquidar 0 item não vendido na própria loja pode canibalizar a venda de novos produtos ou reduzir o valor percebido pelo cliente sobre a marca.

Por outro lado, em empresas onde há volume significativo de produtos com baixo valor agregado, pode ser uma boa alternativa a redução de preços na própria loja, evitando assim os custos com a logística reversa.

Estratégia de mercado
Em linhas gerais, os volumes de retorno são proporcionais aos volumes de venda ou, melhor, aos volumes pretendidos de venda. Nesse
contexto, quanto maiores esses volumes, mais relevante é a organização das operações de logística reversa.

Assim, com o crescimento das empresas, maiores serão os valores absolutos gastos com a operação reversa e mais complexo passa
a ser o gerenciamento dessa operação. O que antes era um volume pequeno, passa a ser um volume que viabilizaria a abertura de uma loja, por exemplo.

Cada vez mais, empresas brasileiras chegam a este ponto de discussão: Como lidar com os retornos? Quais destinações são mais interessantes para o negócio?

Destinações possíveis

Independentemente da posição no ciclo de vida, todos os itens movimentados no processo de logística reversa passam pelas etapas de coleta, triagem/agregação de valor e destinação. A destinação escolhida para as diferentes origens de retorno é definida com base em
diferentes motivadores. Ou seja, cada empresa, a depender da percepção de impacto dos seus retornos para o negócio, pode tomar diferentes decisões quanto à sua operação reversa.

Figura 3 – Destinação dos produtos na cadeia reversa

 

MERCADO SECUNDÁRIO

Uma das formas de destinação possíveis é o mercado secundário, que é composto por canais secundários, ou seja, por um conjunto de canais de venda alternativos para o direcionamento de retornos/sobras, de forma a minimizar a canibalização das vendas nos canais primários da empresa e a viabilizar a máxima recuperação de valor dos itens retornados.

Estes canais secundários para venda dos produtos/inventário podem ser outlets, sites de leilões e compras online, intermediários, lo-
jas de RS 1,99, multimarcas, mercados de pulgas, penhor, caridade, remanufaturas/reformas e reciclagem, entre outros que trabalham com a venda de itens de temporadas passadas, usados em boas condições ou com defeito.

 

COMPARAÇÃO DO MERCADO SECUNDÁRIO – BRASIL VERSUS EUA

A logística reversa nos Estados Unidos começou a ser mais estruturada na década de 1980. Nessa época, teve início a formação de grandes operadores logísticos focados nesse tipo de operaçàor como a Genco, bem como surgiram os outlets como importante canal secundário.  Vale ressaltar que a economia americana naquela década, em termos de PIB, é similar à atual economia brasileira, como mostra a Figura 4.

Figura 4 – Comparação do PIB – Brasil, EUA e União Européia

 

O atingimento desse patamar de volume comercializado indica que o Brasil está entrando em um momento econômico no qual as discussões e direcionamentos da logística reversa terão mais relevância dentro das empresas atuantes no país.

No que tange ao direcionamento dos volumes de retorno, de acordo com a pesquisa realizada nos EUA pelo professor Dale Rogers, da Universidade de Rutgers, em Nova Jersey, e no Brasil – em pesquisa realizada pelo ILOS —, a representatividade do mercado secundário nos EUA é de cerca de 2,6% do PIB, enquanto que, aqui, é ainda de cerca de 0,3% do PIB.

A Figura 5 ilustra a representatividade dos canais secundários nos EUA e no Brasil, excluindo os canais de remanufatura/reforma, reci-
clagem e disposição final.

Figura 5 – Representatividade dos canais secundários nos EUA e Brasil

Intermediários

Nota-se que a participação dos “intermediários” no mercado secundário brasileiro ainda é muito pequena. Os intermediários são as empresas que compram da indústria elou varejo em grandes quantidades e, após a triagem, revendem os produtos para os demais canais secundários. Isso simplifica a operação para a indúsria e o varejo, que vendem todo o volume para uma única empresa, limpando rapidamente o canal primário e liberando espaço nos centros de distribuição.

Uma alternativa ao uso de intermediários é organizar internamente o processo de triagem e direcionamento de produtos, através de operadores logísticos ou recursos próprios. Essa alternativa aumenta o valor recuperado pela empresa, dado que o direcionamento dos rodutos é feito diretamente.

Leilões

Um canal muito relevante no mercado secundário brasileiro é o leilão. Tradicionalmente, trata-se de sites onde as empresas colocam os itens à venda por um valor mínimo e, então, recebem lances pelos produtos. Atualmente, as negociações baseadas em preço fixo estão crescendo mais rapidamente que as baseadas em preço variável (lances), já descaracterizando o título de “leilão”.

No Brasil o maior site dessa modalidade é o Mercado Livre, cujo faturamento anual chega a US$ 1,9 bilhão. Além do C2C (ou seja, o mercado entre consumidores finais), diversas empresas utilizam o Mercado Livre como canal secundário e às vezes até como canal primário. Nele, são vendidos ativos já depreciados e, em muitos casos, produtos com pequenos defeitos ou de temporadas passadas.

Multimarcas

No que diz respeito ao uso de loias multimarcas no mercado secundário, os EUA têm pequenas lojas e grandes redes que trabalham com a venda de vestuário e acessórios para casa, majoritariamente, de coleções antigas para marcas renomadas, como Dior, Jean Paul Gaultier e Armani, entre outras.

Como exemplo das grandes redes, as 3 mil lojas do grupo TJX Companies faturaram em 2012 cerca de US$ 26 bilhões. Para manter o link com o contexto brasileiro, vale reassaltar que a T.J.Maxx, primeira loia do grupo, surgiu na década de 1970, época em que o volume comercializado nos EUA era próximo do atual volume brasileiro.

No Brasil, há maioritariamente pequenas loias multimarcas e o início da participação de grandes players com atuação online, como o Privalia e o Westwing. Muitas marcas ainda utilizam as loias multimarcas quase que exclusivamente como canal primário para acesso ao consumidor de cidades pequenas, onde não valeria a pena manter uma loja própria.

Outlets

Outro canal secundário muito comum nos EUA para itens de vestuário são os outlet malls, que sã0 shopping centers cujas lojas têm como foco a venda de coleções antigas (até duas coleçóes atrás). Nesse caso, diferentemente dos ambientes multimarcas, em geral o outlet possui lojas exclusivas por marca. Os EUA possuem mais de 200 outlet malls, enquanto que no Brasil temos cerca de cinco atualmente.

Segundo os grandes grupos de shopping centers instalados no Brasil, há previsão de crescimento de 100% no número de outlets no país nos próximos cinco anos.

Penhor
Enquanto nos Estados Unidos é possível penhorar qualquer tipo de item e há diversas lojas autorizadas a realizar o procedimento, no Brasil, apenas a Caixa Econômica Federal é autorizada a realizar operações de penhor, além de aceitar somente joias ou itens de alto
valor. Isso explica por que o penhor é um canal consolidado nos EUA e no Brasil sua relevância é pequena.

 

CONCLUSÕES
No Brasil, o mercado secundário está em início de desenvolvimento, com tendência de crescimento para os próximos anos, sendo comparável ao contexto americano da década de 1980.

Devido ao aumento nos volumes de comercialização, a representatividade dos retornos/sobras deve aumentar, gerando a necessidade de maior organização e esforço nas operações de logística reversa. Este mercado exige logística de alto desempenho em custo e tempo, para garantir maior recuperação de valor dos produtos e rentabilidade ao longo da cadeia reversa.

Com o crescimento das operações reversas, um desafio mais forte começa a existir e fomentar o mercado secundário: a necessidade de alternativas para direcionamento dos retornos/sobras, de forma a recuperar o máximo de valor possível, sem canibalizar os canais primários.

No âmbito desse mercado, nota-se o desenvolvimento de diversos canais, sendo os leilões e outlets os de maior potencial de crescimento. As redes de multimarcas, principalmente as online, também demonstram potencial de crescimento no país. Mas sua evolução depende do desenvolvimento de bons intermediários, não existentes no Brasil atualmente.

Em linhas gerais, pode-se imaginar o desenvolvimento do mercado secundário brasileiro em consonância com o histórico americano, o que traz grandes desafios e oportunidades para os profissionais e empresas envolvidos com o tema.

 

BIBLIOGRAFIA

Mercado Secundário: Desafios e Oportunidades. Mega Sessão presentada no XVIII Fórum Internacional de Supply Chain, ILOS, 2013

Pesquisa sobre Mercado Secundário no Brasil. ILOS, 2013

http://www.marshallsonline.com/, Março, 2014

http://tjmaxx.tjx.com, Março, 2014

https://ilos.com.br

Gisela Sousa é Sócia-Executiva e Gerente Sênior de Bens de Consumo do ILOS. Já participou de diversos projetos associados à logística e supply chain para grandes empresas. Tem grande experiência no tema de sustentabilidade na cadeia de suprimentos/logística reversa e em logística e supply chain para o setor de saúde. É formada em engenharia civil com especializações nacionais e internacionais na área de logística, supply chain e operações.

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