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Como os robôs estão transformando o trabalho nos centros de distribuição do mundo

Em um post recente, o Henrique escreveu sobre como a revolução digital pela qual estamos passando tem afetado e como poderá afetar os cargos de trabalho que conhecemos hoje. Aliás, essa questão do “desemprego tecnológico” é uma discussão antiga. Em 350 a.c. Aristóteles já ponderava sobre “o que seria dos servos se a lira tocasse sozinha?”.

O assunto também é frequentemente estudado e discutido entre economistas. Muitos argumentam que os avanços tecnológicos geram sim um desemprego, porém um desemprego momentâneo. A substituição do trabalho braçal por máquinas na Revolução Industrial teria levado a eliminação de cargos em um primeiro momento, porém, no fim, prevaleceu um aumento de produtividade que permitiu gerar mais e riquezas e, consequentemente, mais empregos.

Um exemplo clássico mais recente é ilustrado por David Autor em uma TED Talk do ano passado, sobre os caixas eletrônicos no setor bancário nos EUA. Os números são os seguintes: em 1970, antes da introdução dos caixas eletrônicos, o número de empregados como caixa de banco era da ordem de 250 mil. Em 2016, esse número foi da ordem de 500 mil, o dobro da quantia 46 anos antes da introdução dessa tecnologia disruptiva! O que aconteceu foi que a introdução de caixas eletrônicos barateou a abertura de novas filiais, gerando um aumento de empregos de forma geral. Além de mais empregos, a natureza do trabalho mudou também. Trabalhos repetitivos e de baixo valor foram assumidos pelas máquinas, e os cargos passaram a exigir um trabalho mais sofisticado, envolvendo habilidades de relacionamento com os clientes, solução de problemas e vendas de produtos (cartões, investimentos, etc.).

Os economistas Andrew McAfee e Erik Brynjolfsson, porém, constataram que nos últimos 15 anos os avanços tecnológicos resultaram em um aumento de produtividade muito mais acelerado do que a criação de novos empregos.

Em julho do ano passado, a Mckinsey divulgou o resultado de uma pesquisa que avaliou quais trabalhos serão ou não substituídos por robôs em um futuro próximo. No estudo, foram analisadas cerca de 2.000 atividades, foram quantificados os tempos gastos nessas atividades e analisada a viabilidade técnica de automatizá-las nos EUA. A Figura 1 mostra os resultados do estudo, sugerindo que 45% do tempo gasto com atividades nos EUA poderiam ser automatizadas. O estudo reconhece que outros fatores como custo de implementação e regulamentações governamentais também afetam fortemente a viabilidade de automatização ou não, porém, a viabilidade técnica seria o primeiro fator condicional para que essas automatizações pudessem ocorrer.

Figura 1 –Percentual de tempo gasto com atividades que poderiam ser automatizadas. Fonte: Mckinsey, adaptado por ILOS: Where machines can replace humans – and where they can’t (yet)

 

A Figura 2 mostra esses resultados para 7 categorias de atividade: gestão de pessoas, aplicação de expertise (trabalhos de tomada de decisão, planejamento e trabalhos criativos), interações com stakeholders, trabalho físico “pouco previsível”, coleta de dados, processamento de dados e trabalho físico “altamente previsível”. Vemos que essa última categoria representa um terço de todo o tempo gasto com atividades que poderiam ser automatizadas.

Figura 2 –Percentual de tempo que poderia ser automatizado por categoria de atividade. Fonte: Mckinsey, adaptado por ILOS: Where machines can replace humans – and where they can’t (yet)

 

Muito se fala em veículos autônomos, por exemplo, e na ameaça de redução de empregos de motoristas. Porém, esse tipo de tecnologia ainda está sendo testada em ambientes altamente controláveis. Robôs são pré-programados para lidar com um conjunto finito de situações previstas, e, portanto, sua implementação em processos logísticos de distribuição de carga nos próximos anos parece pouco provável. A entrega last-mile através de drones também ainda tem muito a desenvolver, apesar dos recentes avanços. Isso fora as questões regulamentárias. O estudo da Mckinsey estima que 25% do tempo gasto em atividades de trabalho físico “pouco previsível” poderiam ser automatizadas.

Por outro lado, quando se trata de trabalhos que envolvem uma carga alta de trabalho físico previsível, este percentual foi quantificado em 78%. Em um contexto logístico, pensamos logo nas atividades realizadas em um centro de distribuição. Aliás, muitas dessas tarefas, principalmente de picking, já sofreram uma grande elevação no grau de automatização em alguns centros de distribuição no mundo.

Em fevereiro do ano passado, o Fernando relatou o caso da divisão de aluguel de DVDs e Blu-rays da Netflix. Com o advento dos serviços de streaming e mídia digital recentemente, essa divisão pouco conhecida da Netflix perdeu muita demanda, mas a empresa decidiu não abandonar o segmento. Porém, continuar com a mesma estrutura operacional não era uma opção viável. A empresa investiu na automatização dos 33 centros de distribuição com a introdução de máquinas do tipo amazing arm, que possuem uma produtividade 5 vezes maior do que uma operação manual. Os centros continuaram precisando de pessoas, porém o número de funcionários necessários para o manuseio dos discos caiu de mais de 100 para 25.

De forma mais marcante, temos também o caso da Amazon. Em 2012 a empresa adquiriu a Kiva Systems, empresa especializada no desenvolvimento de sistemas de automação. A razão por trás da aquisição era o aumento de produtividade para aceleração de seu processo de expansão. Os robôs começaram a ser utilizados mesmo em 2014, e no final desse ano sabemos que foram instalados 15 mil robôs em 10 centros de distribuição nos EUA. Em outubro de 2015, esse número duplicou, alcançando a marca de 30 mil robôs em 13 centros (https://ilos.com.br/web/forum-de-davos-e-os-robos-na-logistica/). A empresa reporta que a automatização gerou um corte de 20% dos custos operacionais, que se traduz em aproximadamente $22 milhões por centro de distribuição. O Deutsche Bank estima que a Amazon poderia cortar mais $800 milhões se estender o processo para os outros 110 centros. Os robôs Kiva levam os racks que contém os produtos necessários para compor o pedido até o operador de picking, cortando o tempo de ciclo de 60-75 minutos para 15 minutos.

Vídeo 1 – Um dia na vida de um robô Kiva

A Amazon também trabalha com o Robo-Stow, um dos maiores braços robóticos do mundo, cujo objetivo é movimentar grandes quantidades de estoque, e com sistemas mais avançados de visão, que usam imagens para avaliar a carga e automaticamente fazer o upload da informação no sistema, permitindo o descarregamento de uma carreta em 30 minutos ao invés de horas.

Ainda esse ano, a DHL começará a implementação de um projeto piloto com o uso dos robôs Locus da Quiet Logistics. Assim como na Amazon, esses robôs não substituem completamente o trabalho humano, mas a empresa afirma que é possível aumentar a produtividade de um armazém em 8 vezes. Os robôs agilizam a localização e movimentação dos itens de picking. Além do aumento de produtividade, fala-se em aumento da acurácia da operação também, já que o trabalho manual está sujeito ao erro humano.

Outras implementações incluem a DB Schenker Logistics, que está automatizando seu processo de picking na Escandinávia com o sistema CarryPick da Swisslog (um mini-veículo que faz o abastecimento das estações de picking de forma similar aos robôs Kiva), e o uso da tecnologia AutoStore também da Swisslog para automatização do processo de picking das operações do centro de distribuição da Texas Instruments na Cingapura.

Dentro da cadeia de suprimentos, esse “advento dos robôs” por enquanto é mais palpável na área de armazenagem, e muitas dessas tecnologias por enquanto ainda não substituem por completo o trabalho humano. Porém, não há dúvidas de que os ganhos de produtividade levam a uma necessidade menor de força humana de trabalho, já que atividades repetitivas podem ser feitas com mais qualidade e de forma mais rápida por robôs. Portanto, é inevitável que certos cargos dessa natureza diminuam à medida em que a automatização das operações é mais difundida. Por outro lado, haverá uma demanda maior por cargos relacionados à automação, robótica, programação e manutenção de robôs.

Referências:

Radu Palamariu – How are robots impacting recruitment in Supply Chain and Logistics? <https://www.linkedin.com/pulse/how-robots-impacting-recruitment-supply-chain-radu-palamariu-7>

Business Insider – Companies that  use robots instead of humans. <http://www.businessinsider.com/companies-that-use-robots-instead-of-humans-2016-2/#spreads-robot-lettuce-farmers–harvest-30000-lettuce-heads-every-day-1>

Business Insider – Amazon doubled the number of Kiva robots. <http://www.businessinsider.com/amazon-doubled-the-number-of-kiva-robots-2015-10>

Business Insider – Kiva robots save money for Amazon. <http://www.businessinsider.com/kiva-robots-save-money-for-amazon-2016-6>

IMC – IoT M2M Council – DHL pilots robotics in life sciences warehouse <http://www.iotm2mcouncil.org/dhllocus>

5 anos de experiência em projetos de consultoria em Logística e Supply Chain. Atuou em projetos de otimização de rede logística, custo de servir, plano diretor logístico, definição de política de estoque, previsão de vendas, S&OP (Sales and Operations Planning) e planejamento e gestão de transportes.

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