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A Logística das Olimpíadas Rio 2016

A menos de 10 meses de sediar as primeiras Olimpíadas de sua história, o Brasil, e em especial o Rio de Janeiro, se preparam para o enorme desafio de organizar o maior evento esportivo do mundo. São muitas as características dos jogos que trazem grande complexidade para o planejamento logístico, como ilustra a Figura 1. Segundo Minis et al. (2006), são elas:

  • Caráter transitório: o planejamento logístico dos jogos olímpicos é iniciado com mais de um ano de antecedência e é voltado para uma operação que dura apenas duas semanas e, após o encerramento, deverá ser inteiramente desmobilizada.
  • Dimensão: milhares de atletas, profissionais e expectadores participam e assistem ao evento
  • Diversidade e incerteza da demanda: é preciso controlar, armazenar e distribuir uma enorme variedade de itens, que vão desde as petecas usadas no badminton até o gelo utilizado pelas comissões médicas. Além disso, há pouco conhecimento sobre a quantidade e distribuição da demanda, de maneira que atletas podem requisitar itens de seu país a poucos dias da cerimônia de abertura.
  • Cronograma fixo: a data de início e encerramento das olimpíadas, assim como a programação dos jogos, são definidos com anos de antecedência e não podem ser alterados.
  • Grande impacto do erro: os jogos olímpicos dificilmente admitem erros. Qualquer falha pode ter implicações enormes e praticamente não há tempo hábil para melhorar processos ou treinar mais a equipe.
  • Equipe mista e inexperiente: geralmente a mão-de-obra utilizada nos jogos é inexperiente em eventos do porte e é contratada com pouca antecedência. Além disso, uma enorme parcela dos profissionais é voluntária.
  • Necessidade de integração: a área de logística possui interface com uma enorme quantidade de agentes (atletas, público, comissões esportivas, mídia e imprensa, entre outros) e é preciso atender a todos na hora, local e condições solicitadas

Figura 1 – Fatores complicadores à logística dos jogos Olímpicos

Fonte: ILOS (adaptado de Minis et al. (2006))

 

A frente das atividades logísticas de transporte, armazenagem e distribuição de material do megaevento estará os Correios, escolhido o operador logístico oficial dos jogos olímpicos e paralímpicos Rio 2016 e o primeiro correio público do mundo a realizar essa operação.

Encerrando o XXI Fórum Internacional Supply Chain, o vice-presidente de Logística dos Correios, José Furian Filho, apresentou para o público um panorama da operação que está sendo planejada para o próximo ano e qual será o papel da empresa durante os jogos.

Durante os jogos Pan-Americanos de 2007, também realizados na cidade do Rio de Janeiro, os Correios foram encarregados de todo o transporte e montagem da estrutura do evento. A experiência bem-sucedida há 8 anos atrás foi determinante para a escolha da empresa. No entanto, o desafio que está por vir será ainda maior.

Segundo José Furian Filho, em apresentação realizada no XXI Fórum Internacional de Supply Chain, para atender aos quase 15.000 atletas olímpicos e paraolímpicos de mais de 200 países, precisarão ser movimentados mais de 30 milhões de itens, como por exemplo, partes de equipamentos esportivos, bagagens dos participantes, aparatos de transmissão de televisão, suprimentos médicos e mobília dos locais de competição e não competição. Além da entrega dos 7,5 milhões de ingressos disponíveis, a movimentação das mais de 8.600 amostras de antidoping entre as arenas e os laboratórios de análise, 5.000 medalhas de premiação e 500 armas de fogo utilizadas pelos atletas de tiro são exemplos de operações de distribuição de alta complexidade inerentes ao evento.

O orçamento previsto no contrato de logística disponibiliza aos Correios um total de 180 milhões de reais para realizar a operação do Rio 2016, que contará com cerca de 2.600 pessoas (255 empregados próprios), 170 caminhões e 2.000 equipamentos de movimentação de carga. Para a armazenagem de itens, serão 100.000 m² no total, no qual destaca-se o Main Distribuiton Center (MDC) localizado em Duque de Caxias, que sozinho possui capacidade de armazenagem de 75.000 m². O centro   de comando logístico ficará na Barra da Tijuca, bairro no qual ocorrerá a maior quantidade de competições (23 modalidades olímpicas serão disputadas na região) e onde está localizado o Parque dos Atletas. A logística não compreenderá apenas a cidade do Rio de Janeiro. Belo Horizonte, Manaus, Brasília, São Paulo e Salvador sediarão jogos de futebol masculino e feminino e também estão inclusas no raio de operação logística.

O planejamento da operação começou em 2014, antes da assinatura do contrato, (realizada em janeiro deste ano), e terminará apenas 35 meses depois, com a completa desmobilização da estrutura em 2017. No entanto, ainda em 2012, uma equipe especial de profissionais dos Correios esteve nos Jogos Olímpicos de Londres, com o objetivo de observar de perto a logística deste tipo de evento e ajudar a se preparar para o serviço que seria de sua responsabilidade 4 anos depois. Durante os Jogos Olímpicos de Inverno de 2014, realizado na cidade russa de Sóchi, e na Copa do Mundo de 2014, ocorrida no Brasil, essa mesma equipe esteve presente, buscando aumentar sua experiência em megaeventos esportivos. O objetivo era identificar boas práticas, que poderiam ser replicadas no Rio de Janeiro, e se preparar para não repetir falhas como a ocorrida nos Jogos Olímpicos de 2008 na China, no qual a organização do evento perdeu uma das varas da saltadora brasileira Fabiana Murer.

Para realizar a maior operação de logística não militar do mundo, será necessário muito planejamento e trabalho. Contudo, realizando o seu objetivo de entregar jogos memoráveis, os Correios darão um enorme passo em seu objetivo de deixar de serem vistos apenas como entregadores de correspondências e serem reconhecidos como uma das maiores empresas de logística país.

 

Referências

Minis , I.; Paraschi , M.; Tzimourtas , A. The design of logistics operations for the Olympic Games. International Journal of Physical Distribution & Logistics Management, v.36, n.8, p. 621-642, 2006.

Acessado em: <http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0022435915000214>

<http://www.brasil2016.gov.br/pt-br/noticias/presidente-dos-correios-detalha-acoes-de-logistica-e-suporte-para-os-jogos>

<http://globotv.globo.com/rede-globo/olimpiadas/v/em-2008-fabiana-murer-perde-uma-das-varas-e-acaba-eliminada-nos-jogos-olimpicos-de-pequim/4411122/>

<https://www.youtube.com/watch?v=4Wh4ab-5W9o>

Mais de 11 anos de experiência em projetos de capacitação e consultoria, com foco em Logística e Supply Chain. Em consultoria, realizou projetos como Plano Transformacional de Logística, Diagnóstico das operações logísticas, Estratégia e Calendarização da Operação de Transporte, Mensuração do Custo de Servir, Estudo de Mercado, Mapeamento de Oportunidades de Redução de Inventário, Revisão do Processo de S&OP, Plano de Capacitação e Implementação de Processos Comerciais em empresas como Nestlé, Raia Drogasil, Ipiranga, Lojas Americanas, B2W, Coca-Cola, Andina, Embraco, Martins Atacado, Loja do Mecânico, Santo Antônio Energia, Ecoporto e Silimed. Atualmente é uma das professores do Curso de Gestão de Estoques ministrado semestralmente pelo ILOS. Atuou no desenvolvimento e gerenciamento dos Cursos Online de Logística e Supply Chain, Processos de Suprimentos, Planejamento da Demanda, Gestão de Estoques e Gestão Industrial. Ainda na área de capacitação, foi responsável por aplicar os jogos empresariais do ILOS em empresas como Raia Drogasil, Fibria, NEC, Novartis e Moove.

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