Apesar de não ser um assunto novo, o uso de Opções Reais na avaliação de investimentos na estrutura logística ainda apresenta enormes oportunidades. Em muitos casos, não existe a integração necessária entre as áreas financeira e de operações para que se possa utilizar adequadamente essa metodologia para avaliação de projetos, em outros, decisões de investimento são tomadas em fóruns inadequados para isto, como reuniões executivas de S&OP.
Diferentemente da solução tradicional obtida com o método de avaliação de fluxo de caixa descontado a valor presente (VPL), largamente utilizada para ativos financeiros, a precificação de ativos reais deve considerar que as incertezas, a mobilização e a desmobilização de capital podem (e devem) ser escalonadas no tempo. Imagine o seguinte estudo de caso:
Em busca da expansão de sua atuação para novas regiões, uma empresa realizou recentemente um projeto de rede logística, que indicou a abertura de dois novos centros de distribuição. No entanto, o agravamento da crise econômica trouxe incertezas sobre os parâmetros utilizados para a determinação da demanda futura, o que tem gerado uma grande dúvida sobre a aceitação de seus produtos nas novas regiões.
Em função das regras tributárias e incentivos fiscais oferecidos, a abertura dos CDs é totalmente independente, pois cada um foi concebido para atender uma região específica. No entanto, o departamento de marketing tem certeza absoluta de que se os produtos forem aceitos em uma região, também o serão na outra.
A estimativa atual é de que a chance de aceitação dos produtos é de 50%. Caso isso ocorra, o VPL do fluxo de caixa operacional (OPEX) obtido com a abertura de cada CD é de R$100MM. Caso os produtos não sejam bem aceitos, o VPL projetado é de R$50MM/CD. O investimento necessário (CAPEX) para abrir cada CD é de R$80MM. Considerando um WACC de 10%a.a., qual seria a melhor recomendação? Abrir um, dois ou nenhum CD?
A solução tradicional, utilizando o método de avaliação de fluxo de caixa descontado a valor presente (VPL), indica que os CD’s não devem ser abertos, pois produzem VPL negativo.
Abertura do CD1 no ano 0:
50% x (R$100MM – R$80MM) + 50% (R$50MM – R$100MM) = – R$5MM
Abertura do CD2 no ano 0:
50% x (R$100MM – R$80MM) + 50% (R$50MM – R$100MM) = – R$5MM
Resultado: – R$10MM
No entanto, a incerteza não deve ser considerada como uma constante, sobretudo quando tratamos de investimento em ativos reais. Neste caso, a solução correta é fazer o escalonamento no tempo da abertura dos CDs. Uma vez aberto o primeiro CD, não há mais incerteza sobre a aceitação, ou não, do produto e, portanto, temos o seguinte resultado:
Abertura do primeiro CD no ano 0:
50% x (R$100MM – R$80MM) + 50% x (R$50MM – R$80MM) = – R$5MM
Abertura do segundo CD no ano 1, caso o produto tenha sido aceito (50%):
50% x (R$100MM – R$80MM) / 1,1 = + R$9,09MM
Resultado = + R$4,09MM (melhor solução)
Este é um exemplo muito simples do uso de Opções Reais, que podem ter aplicações muito mais sofisticadas, que exigem o uso de ferramentas de simulação e árvores de decisão. Em um cenário de crédito restrito e elevação de custos operacionais, como o vivido pelas empresas brasileiras neste momento, é fundamental aprimorar o processo decisório para priorizar os projetos e escaloná-los corretamente ao longo do tempo.