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Gestão Integrada da Cadeia de Suprimentos – Barreiras Tecnológicas

Nesta última postagem da série de seis artigos sobre os benefícios e barreiras para a integração da cadeia de suprimentos, falarei das barreiras tecnológicas. Todo o processo de colaboração e integração com parceiros comerciais é intensivo na troca e tratamento de dados, tendo, portanto, a tecnologia da informação papel de destaque na viabilização das iniciativas de Supply Chain Management (CACHON e FISHER, 2000; CHOPRA e MEINDL, 2000; DATTA e CHRISTOPHER, 2011; GUNASEKARAN e NGAI, 2004; LEE et al., 2000; LI, 2002; LI e ZHANG, 2008). As barreiras tecnológicas podem ter quatro origens distintas: incompatibilidade de sistemas, complexidade dos fluxos de informação, problemas na infraestrutura tecnológica e incompreensão por parte dos gestores dos benefícios de compartilhar a informação (FAWCETT et al., 2007).

Sistemas de informação inadequados ou incompatíveis são uma barreira fundamental para a colaboração na medida em que dificultam a troca de informações entre os parceiros da cadeia (FAWCETT et al., 2007). Os problemas de incompatibilidade começam na falta de padronização das informações contidas nos códigos de barra (HERRMANN et al., 2013), ainda a tecnologia mais utilizada para rastreamento de carga ao longo da cadeia, que carregam informações diversas e nem sempre úteis para melhorar o planejamento e integrar operacionalmente os parceiros (BOECKE e WAMBA, 2008; MURAKAMI e SARAIVA, 2005).

Além disso, o uso de sistemas proprietários, projetados para lidar com as informações da empresa internamente e, portanto, autônomos, heterogêneos e não integrados, apresenta desafios para a colaboração entre parceiros na cadeia de suprimentos, uma vez que as informações necessárias se encontram dispersas nestes sistemas (MURAKAMI e SARAIVA, 2005). Com isso, faz-se necessário a conversão dos dados para padrões de linguagem intercambiáveis, como o EDIFACT ou XML (PRAMATARI, 2007).

O uso de padrões é muito importante para garantir a confiabilidade, acessibilidade, utilidade e interoperabilidade de informações entre as empresas de uma cadeia de suprimentos (MURAKAMI e SARAIVA, 2005; PRAMATARI, 2007). Na maioria das vezes, esta conversão e troca de dados precisa ser intermediada por empresas especializadas, conhecidas como VANs (Value Added Network), o que encarece e inviabiliza este tipo de operação para pequenas e médias empresas.

Isto provoca, na análise de FAWCETT et al. (2007), um problema secundário: níveis de conectividade diferentes ao longo da cadeia, que impedem o pleno aproveitamento das oportunidades de integração. A disseminação do uso da internet e o desenvolvimento do padrão XML representam uma grande oportunidade como canal de comunicação e troca de dados entre empresas de todos os portes (CASTRO e LADEIRA, 2012), o que minimizaria este problema. No entanto, a dificuldade de integração de sistemas ainda é citada, em todas as pesquisas com executivos sobre o tema, como um dos maiores obstáculos para a integração da cadeia (FAWCETT et al., 2008).

FAWCETT et al. (2007) destacam que, não obstante a dificuldade na troca de dados entre as empresas, estes só passam a ter valor quando transformados em informações relevantes e disponibilizados para os tomadores de decisão. Surge, pois, um grande desafio: lidar com a complexidade dos fluxos de informação (MURAKAMI e SARAIVA, 2005), que requer a análise e interpretação de uma quantidade cada vez maior de informações (volume), oriundas de fontes e em formatos distintos (variedade) e a disponibilização praticamente em tempo real para um sem número de envolvidos (velocidade).

As empresas, para tentar lidar com esta complexidade, têm investido cada vez mais tempo e recursos na aquisição e utilização de sistemas integrados de gestão empresarial (Enterprise Resources Planning – ERP), que procuram padronizar informações e processos, garantindo a confiabilidade e a disponibilidade da mesma informação para todos na empresa. No entanto, os investimentos necessários para sua implantação, em tempo e dinheiro, costumam ser até duas vezes maiores do que o orçamento inicial e os resultados, muitas vezes, não são os esperados (FAWCETT et al., 2007).

O aumento do volume de dados é resultado do acúmulo das informações registradas ao longo dos anos, da infinidade de textos trocados nas mídias sociais e do aumento do número de aparelhos móveis produzindo e sensores coletando informações, tendo sido viabilizado pela redução dos custos de armazenamento de dados (HILBERT e LÓPEZ, 2011). Resolvido o problema do custo do espaço para guarda, surge o novo desafio de selecionar os dados mais relevantes e gerar informações úteis a partir deles (FAWCETT et al., 2008).

Além de ter que lidar com o grande volume de dados, outra dificuldade é trabalhar e cruzar dados nos mais diferentes formatos, como textos, data base, planilhas, áudio, vídeo, transações financeiras, registros de medidores e sensores, entre outros (HILBERT e LÓPEZ, 2011). Grande parte destes dados não está em formato numérico, o que exige novas e sofisticadas ferramentas de análise, com poucas empresas capazes de utilizá-las consistentemente (MANYIKA et al., 2011).

O resultado destas análises precisa chegar até as pessoas certas em tempo hábil para a tomada de decisão, o que obriga as empresas a aprimorarem os sistemas de troca e análise de informações, reforçando os pontos anteriormente discutidos (FAWCETT et al., 2008). Reagir rápido o suficiente para se apropriar dos benefícios dos dados disponíveis é cada vez mais um desafio para a maioria das organizações.

Além da incompatibilidade de sistemas e complexidade dos fluxos de informação (FAWCETT et al., 2007), a indisponibilidade da infraestrutura de TI e telecomunicações também é citada como possível barreira para integração das cadeias de suprimentos (AGAN, 2011; MOAVENZADEH et al., 2013). Países e regiões com indisponibilidade ou baixa qualidade de serviços de telecomunicações e internet tendem a oferecer mais dificuldade para a troca de dados entre empresas (MOAVENZADEH et al., 2013). Estas três barreiras juntas são agrupadas por FAWCETT et al. (2007) na categoria de conectividade.

A última barreira tecnológica foi assim definida por FAWCETT et al. (2007): “Os gerentes não compreendem a importância da boa vontade no compartilhamento de informações!”. Assim, não investem tempo nas questões humanas relacionadas com a troca de informações, acreditando que esta ocorrerá como consequência simples e direta dos investimentos em sistemas avançados, desconsiderando que a informação é tida como uma fonte de poder e seu compartilhamento depende da “boa vontade” das pessoas envolvidas, muito mais do que da disponibilidade de sistemas (LEE et al., 2000).

 

Tabela 1 – Conectividade X Disposição para compartilhar informações

Fonte: FAWCETT et al. (2007)

 

A Tabela 1 (FAWCETT et al., 2007) faz o cruzamento das dimensões de conectividade e “disposição para compartilhar informação”, mostrando que a menos que exista alta conectividade e alta disposição para o compartilhamento, o que depende da existência de relações de confiança, as empresas terão que vencer alguns desafios para viabilizar sua integração.

Segundo POWER (2005), a informação é o único elemento na cadeia de suprimentos que está ficando mais barato ao longo do tempo, possibilitando a evolução das práticas colaborativas entre membros da cadeia de suprimentos. No entanto, muitos gestores temem que o compartilhamento de informações possa potencialmente resultar em perda de controle da informação e em uma diminuição do nível de segurança dentro das organizações participantes. Privacidade e segurança são, portanto, assuntos de grande importância, uma vez que as empresas vão lidar com dados confidenciais de seus parceiros.

Tabela 2 – Quadro resumo das barreiras tecnológicas

 

Apesar de ser uma constante na literatura sobre SCM, a questão tecnológica é muitas vezes abordada de forma generalista, o que torna a mensuração de seu impacto como barreira para a integração mais difícil. Na Figura 1, os principais problemas para a integração são relacionados com possíveis causas descritas na literatura, ilustrando a Tabela 2.

Figura 1 – Network Design das barreiras tecnológicas para integração da cadeia de suprimentos
Fonte: AUTOR com uso da ferramenta Atlas.TI.

 

 

Referências:

1 AGAN, Y. Impact of Operations, Marketing, and Information Technology Capabilities on Supply Chain. Integration. Journal of Economics and Social Research, v. 13, n. 1, p. 27-56, 2011.

2 BOECK, H.; WAMBA, S. F. RFID and buyer-seller relationships in the retail Supply Chain. International Journal of Retail and Distribution Management, v. 36, n. 6, p. 433–460, 2008.

3 CACHON, G.P.; FISHER, M. Supply Chain inventory management and value of shared information. Management Science, v. 46, n. 8, páginas 1032-1048, 2000.

4 CASTRO, M. R. DE; LADEIRA, M. B. Práticas Colaborativas na Cadeia de Suprimentos e o Papel das Novas Tecnologias de Informação. E-Tech: Tecnologias para Competitividade Industrial, v. 5, n. 1, p. 32–55, 2012.

5 CHOPRA, S.; MEINDL, P. Supply Chain Management: Strategy, Planning and Operation, Prentice Hall, USA, 2000.

6 DATTA, P. P.; CHRISTOPHER, M. G. Information sharing and coordination mechanisms for managing uncertainty in Supply Chains: a simulation study. International Journal of Production Research, v. 49, n. 3, p. 765-803, fev 2011.

7 FAWCETT, S. E.; OSTERHAUS, P.; MAGNAN, G. M.; BRAU, J. C.; MCCARTER, M. W. Information sharing and Supply Chain performance : the role of connectivity and willingness. Supply Chain Management: An International Journal, v. 12, n. 5, p. 358–368, 2007.

8 FAWCETT, S. E.; MAGNAN, G. M.; MCCARTER, M. W. Benefits, barriers, and bridges to effective Supply Chain Management. Supply Chain Management: An International Journal, v. 13, n. 1, p. 35-48, 2008.

9 GUNASEKARAN, A; NGAI, E. W. T. Information systems in Supply Chain integration and management. European Journal of Operational Research, v. 159, p. 269–295, 2004.

10 HERRMANN, F. F.; PEREIRA, G. M.; BORCHARDT, M.; SILVA, R. I. DA. Benefícios e impeditivos à integração da cadeia de suprimentos calçadista por meio da tecnologia de informação. Gestão e Produção, v. 20, n. 4, p. 939–952, 2013.

11 HILBERT, M.; LÓPEZ, P. The World’s Technological Capacity to Store, Communicate, and Compute Information. Science Magazine, v. 332, n. 6025, p. 60–65, 2011.

12 LEE, H. L; SO, K.C.; TANG, C.S. The value of information sharing in a two-level Supply Chain. Management Science, v. 46, n. 5, páginas 626-643, 2000.

13 LI, L. Information sharing in a Supply Chain with horizontal competition. Management Science, v. 48, n.9, páginas 1196-1212, 2002.

14 LI, L.; ZHANG, H. Confidentiality and Information Sharing in Supply Chain Coordination. Management Science, v. 54, n. 8, p. 1467–1481, 2008.

15 MANYIKA, J.; CHUI, M.; BROWN, B.; et al. Big data : The next frontier for innovation, competition and productivity. McKinsey Global Institute, páginas 1–137, 2011.

16 MOAVENZADEH, J.; DOHERTY, S.; PHILIP, R.; et al. Enabling Trade Valuing Growth Opportunities. Davos: World Economic Forum. Disponível em: <http://www3.weforum.org/docs/WEF_SCT_EnablingTrade_Report_2013.pdf>, 2013.

17 MURAKAMI, E.; SARAIVA, A. M. Rastreabilidade da informação nas cadeias produtivas: padrões de troca de dados. Revista Brasileira de Agroinformática, v. 7, n. 1, p. 58–66, 2005.

18 POWER, D. Supply Chain Management integration and implementation: a literature review. Supply Chain Management: An International Journal, v. 10, n. 4, p. 252–263, 2005.

19 PRAMATARI, K. Collaborative Supply Chain practices and evolving technological approaches. Supply Chain Management: An International Journal, v. 12, n. 3, p. 210–220, 2007.

https://ilos.com.br

Sócio Executivo do ILOS. Graduado em Engenharia de Produção pela EE/UFRJ, é Mestre em Administração de Empresas pelo COPPEAD/UFRJ com extensão na EM Lyon, França, e doutor em Engenharia de Produção na COPPE/UFRJ. Tem diversos artigos publicados em periódicos e em revistas especializadas, sendo um dos autores do livro: “Previsão de Vendas: Processos Organizacionais & Métodos Qualitativos e Quantitativos”. Suas áreas de pesquisa são: Planejamento da Demanda, Serviço ao Cliente no Processo Logístico e Planejamento de Operações. Atuou durante 8 anos no CEL-COPPEAD/UFRJ, ajudando a organizar a área de Ensino em Logística. Em consultoria, realizou diversos projetos na área de logística, como Diagnóstico e Plano Diretor, Previsão de Vendas, Gestão de Estoques, Planejamento da Demanda e Plano de Capacitação em empresas como Abbott, Braskem, Nitriflex, Petrobras, Promon IP, Vale, Natura, Jequití, entre outras. Como professor, ministrou aulas em empresas como Coca-Cola, Souza Cruz, ThyssenKrupp, Votorantim, Carrefour, Petrobras, Vale, Via Varejo, Furukawa, Monsanto, Natura, Ambev, BR Distribuidora, ABM, International Paper, Pepsico, Boehringer, Metrô Rio, Novelis, Sony, GVT, SBF, Silimed, Bettanin, Caramuru, CSN, Libra, Schlumberger, Schneider, FCA, Boticário, Usiminas, Bayer, ESG, Kimberly Clark e Transpetro, entre outras.

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