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AVALIAÇÃO DA ORGANIZAÇÃO LOGÍSTICA EM EMPRESAS DA CADEIA DE SUPRIMENTO DE ALIMENTOS – INDÚSTRIA E COMÉRCIO

O objetivo deste artigo é apresentar resultados de pesquisa sobre o estágio de desenvolvimento da organização logística de empresas indústrias e comerciais, pertencentes a cadeia de suprimento de alimentos. Para tanto, foi utilizado o modelo analítico desenvolvido por Bowersox (1992), e adaptado por Lavalle (1995), para verificar qual segmento da cadeia teria uma organização logística mais sofisticada. A análise dos resultados visa o maior entendimento da cadeia de suprimento de alimentos buscando identificar a existência de compatibilidade entre os segmentos, considerando as dimensões do modelo adotado. As empresas industriais, por serem mais complexas, buscam um maior nível de flexibilidade em suas operações, que por seu turno, é alcançado por meio de uma maior sofisticação da organização logística. Ao final, é apresentado um conjunto de perspectivas de desenvolvimento da organização logística na cadeia de alimentos.

Área Temática: Operações, Logística e Serviços

INTRODUÇÃO 

A cadeia de suprimento de alimentos tem experimentado mudanças significativas na década 90 em razão do aumento da competição imposto pela abertura do mercado às importações e à estabilização econômica.

A eliminação dos ganhos inflacionários implicou em redirecionamento do foco gerencial para as atividades fins do negócio, em busca de rentabilidade. Por outro lado, a maior disponibilidade de produtos similares, com a chegada dos importados, aumentou ainda mais a competição no mercado.

Observa-se que as empresas têm respondido a estes desafios adotando uma série de mudanças tanto nos aspectos gerenciais quanto operacionais. Verifica-se a importância crescente de relacionamento mais próximo entre a indústria e o comércio, o qual tem sido materializado através da integração de sistemas logísticos. Neste sentido, as questões logísticas aparecem na agenda da alta administração como parte integral das estratégias competitivas para fazer frente a concorrência e, conseqüentemente, auferir maiores lucros. A integração da cadeia de suprimento passou a ser visto como objetivo capital para a obtenção de ganhos de produtividade no âmbito das empresas.

A Gráfico 1 apresenta o resultado de pesquisa desenvolvida pelo Centro de Estudos em Logística (CEL) – COPPEAD/UFRJ , o qual aponta para o crescimento em importância do serviço de distribuição física no processo de tomada de decisão de compra de empresas comerciais com relação às industriais de bens de consumo. As negociações calcadas fundamentalmente em preço passam a considerar o serviço de distribuição como fator de diferenciação importante nas decisões de compra por parte do comércio.

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Se por um lado constata-se uma valorização da logística na estratégia empresarial, por outro, surge uma série de outras perguntas a serem respondidas, as quais estão relacionadas a forma como as empresas de uma mesma cadeia de suprimento estão se organizando para enfrentar os novos desafios. Segundo Bowersox (1996), os executivos de logística podem beneficiar-se com o entendimento do processo de desenvolvimento organizacional das empresas.

Este artigo tem como objetivo apresentar resultado sobre o nível de desenvolvimento da organização logística de conjuntos de empresas que se relacionam dentro de uma mesma cadeia de suprimento (ver Figura 1). O elo produção/comercialização de alimentos foi escolhido por representar diversos segmentos (indústria, varejo e atacado) da economia brasileira com alto grau de dinamismo e que, como conseqüência, vem desenvolvendo um grande esforço no aprimoramento operacional e gerencial das atividades logísticas. Uma expressiva evidência desse dinamismo é o Movimento ECR Brasil (1998) , que em novembro de 1998, organizou seu congresso; durante o qual foram apresentados resultados já alcançados por empresas que aderiram aos programas que visam a maior eficiência da cadeia de suprimento.

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Vale ressaltar que a entrada de novos competidores internacionais com alta capacitação logística tem contribuído ainda mais para a aceleração das mudanças acima mencionadas, e deve ser encarada como fator determinante para a reflexão e reposicionamento do setor em estudo.

O elo produção/comercialização passa por mudanças radicais com a introdução de novas tecnologias de informação e comunicação, e de abordagens gerenciais voltadas ao processo logístico, capazes de gerar impactos profundos na forma atual de fazer negócios. Cada vez mais a busca por eficiência tem como pré-requisito a alta qualidade dos serviços prestados ao cliente final. No entanto, para atingir plenamente estes objetivos, é fundamental que exista um alto nível de integração e coordenação entre os processos logísticos de empresas de uma mesma cadeia de suprimento. As empresas cada vez mais estão se conscientizando de que não é possível atender as exigências de serviço dos clientes e, simultaneamente, cumprir com os objetivos de custo da empresa sem trabalhar de forma coordenada com outros participantes da cadeia de suprimento. As empresas não trabalham em um vácuo. Ações de uma empresa afetam de forma positiva ou negativa os custos das outras empresas da cadeia de suprimento.

Nas últimas décadas, os EUA tem sido palco de fortes movimentos de integração como o ECR, Quick Response e CRP. As empresas de vanguarda tem se utilizado da logística como capacitação central de suas estratégias competitivas . O sucesso na implementação de programas de integração está diretamente relacionado à capacidade das empresas de desempenhar atividades conjuntas e compartilhar informações. Estas empresas necessitam dispor de uma organização da estrutura logística interna bem desenvolvida. Além disso, é importante que estruturas de diferentes empresas de uma mesma cadeia de suprimento sejam compatíveis entre si. Neste sentido, é importante considerar as diferenças de natureza entre os sistemas logísticos da indústria e comércio.

A indústria se caracteriza por processos produtivos e logísticos de maior profundidade do que o comércio. É comum observar uma cadeia produtiva com vários estágios escalonados, como é o caso, por exemplo,  do setor de alimentos de massas. Neste setor, o processo logístico vai desde o plantio e de colheita de grãos, passando por processamentos intermediários, até o estágio de industrialização final e entrega aos estabelecimentos comerciais. No caso do comércio, a profundidade é significativamente menor, já que este basicamente lida com a distribuição de produtos acabados. Por outro lado, o processo logístico do comércio se caracteriza-se por sua grande amplitude devido as múltiplas transações associadas ao grande número de itens comercializados, se comparado a indústria. Estas diferenças quando não são devidamente consideradas podem ser fontes de obstáculos para os movimentos de integração da cadeia de suprimento.

A próxima sessão apresenta o modelo conceitual que serviu de referência para verificar o estágio de desenvolvimento da organização logística em empresas comerciais e industriais pertencentes à cadeia de alimentos. Em seguida, são analisados os resultados da pesquisa a luz do modelo utilizado.

O MODELO CONCEITUAL

O modelo conceitual utilizado nesta pesquisa (Lavalle, 1995 ), apresentado na Figura 2 ilustra, é uma adaptação do modelo desenvolvido por Bowersox  (1992), o qual foi baseado em ampla pesquisa denominada LEADING EDGE LOGISTICS feita no mercado norte-americano, em 1989 .

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Segundo o modelo conceitual, empresas de vanguarda se destacam pelo alto nível de flexibilidade em seu sistema logístico, visando o atendimento de exigências de clientes chave e situações contingenciais. No entanto, a capacidade de ser flexível é resultante do nível de sofisticação da organização logística, que pode ser decomposta em três dimensões: formalização, monitoramento de desempenho e adoção de tecnologia de informação. Por fim, o nível de sofisticação necessário para a organização logística está diretamente relacionado ao nível de complexidade das atividades logísticas das empresas consideradas.

A formalização refere-se a forma de organização das funções logísticas nos aspectos de coordenação, autoridade e planejamento. O monitoramento de desempenho é a dimensão que trata da sistemática de controle dos processos logísticos, peça chave para o aperfeiçoamento contínuo dos mesmos. A adoção de tecnologia está associada a intensidade de uso de softwares e hardwares em processos logísticos, a qual viabiliza a manipulação e a transmissão de grandes quantidades de informações operacionais e gerenciais precisas e em tempo hábil, que por seu turno, possibilita a maior agilidade do processo decisório. A flexibilidade reflete a capacitação  das empresas em identificar e responder rapidamente às necessidades e oportunidades de mercado de forma inovadora e orientada ao cliente. Finalmente, a complexidade operacional  está relacionada às características do negócio, tais como: número de clientes, fornecedores, instalações físicas e SKU’s.

A formalização da estrutura logística de forma integrada possibilita a orquestração plena do processo rotineiro, liberando a alta administração a dedicar-se às questões estratégicas e a mobilizar esforços logísticos em situações extemporâneas com grande precisão. A responsabilidade fundamental da alta administração é criar um ambiente organizacional dentro do qual o executivo operacional tem as melhores condições para atingir os objetivos corporativos. Neste sentido, a estrutura organizacional tem um papel vital na arte de gerenciar. Tradicionalmente, a responsabilidade pela gerência dos processos logísticos tem sido fragmentada, gerando vulnerabilidades em função de duplicação de esforços, desperdícios de recursos, conflitos de autoridade e incompatibilidade de objetivos.

A adoção de tecnologia adequada, ao viabilizar a disponibilização de informações precisas e em tempo hábil, permite uma avaliação mais realista da situação que conseqüentemente minimiza o tempo de resposta e aumenta a possibilidade de sucesso da empresa. O processo decisório se torna mais ágil; os ciclos operacionais mais curtos; e as adaptações no sistema menos traumáticas.

O monitoramento permanente do desempenho dos processos logísticos torna-os mais estáveis. A análise sistemática de indicadores associados à custos, serviços ao cliente e qualidade do produto, resulta em maior conhecimento do processo como um todo, que em seu turno possibilita uma maior flexibilidade das operações. A prática de benchmarking parte do princípio que não existe razão para se reinventar a roda; observar como outras organizações fazem atividades semelhantes ou tratam situações adversas, pode significar economia de tempo e recursos.

A empresa que dispõe de flexibilidade em suas operações pode beneficiar-se em situações especiais, seja pela maior habilidade de satisfazer o cliente, seja pela capacidade de desempenha-las ao menor custo. A idéia central é manter-se criativo, tirando proveito das alternâncias do mercado. Uma empresa com operações flexíveis é capaz de customizar seus serviços e capitalizar seus esforços nas oportunidades mais lucrativas. Em alguns casos, a flexibilidade logística pode ser usada para tirar proveito de flutuações de demanda, em outros para responder positivamente a demandas peculiares de clientes chave. Independentemente das razões, desempenho superior está relacionado a habilidade da empresa em identificar e responder rapidamente às oportunidades do mercado.

Os resultados da presente pesquisa possibilitaram verificar o modelo analítico proposto por LAVALLE (1995), o qual relaciona a complexidade logística com o nível de sofisticação da organização logística e a flexibilidade das empresas. Ou seja, a análise dos resultados visam responder as seguintes perguntas de pesquisa:

  • Como as empresas industriais e comerciais do setor de alimentos e bebidas estão estruturando a organização dos seus sistemas logísticos?
  • Existe um padrão no desenvolvimento da organização logística considerando o comércio e a indústria do setor de bens de consumo?
  • Existe um pólo irradiador de adoção de tecnologia entre a indústria e o comércio?
  • Quais as perspectivas de desenvolvimento da organização logística nas empresas pertencentes a cadeia de suprimento de alimentos?

A PESQUISA DE CAMPO E AS PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DA AMOSTRA

A pesquisa foi feita através de questionário estruturado, através do qual foi avaliada uma série de questões relacionadas às dimensões do modelo conceitual. As perguntas eram basicamente de natureza qualitativas, para as quais foram utilizadas a escala de Likert.

As empresas foram primeiramente agrupadas segundo sua natureza e, em seguida, foram apurados os resultados para as variáveis que compõem cada dimensão do modelo conceitual. Por exemplo, no caso da dimensão complexidade operacional, foram consideradas as variáveis: número de SKU’s, número de fornecedores, número de armazéns, número de clientes, o nível de perecibilidade dos produtos e a existência de instalações de manufatura.

A fase de coleta de dados desta pesquisa foi realizada em 26 empresas do setor de alimentos, entre abril de 1996 a junho de 1997. Em geral, as empresas industrias caracterizam-se por serem maiores do que as empresas comerciais. Ou seja, enquanto o faturamento das 15 empresas industriais pesquisadas, medido pela mediana, é de R$ 435 milhões, com 2.757 empregados,  no caso das 11 empresas comerciais este faturamento é de R$ 300 milhões, com 1.675 empregados.

Por se tratar, em geral, de grandes empresas, líderes em seus respectivos setores, espera-se que a amostra reflita o estágio de desenvolvimento da organização logística de empresas que, em algum grau, percebem a importância da logística para o sucesso do negócio. Neste sentido, por se tratar de empresas de sucesso, as conclusões deste trabalho devem refletir o padrão de desenvolvimento da organização logística de empresas comerciais e industrias.

QUANTO A AVALIAÇÃO DA COMPLEXIDADE LOGÍSTICA

A análise a seguir visa estabelecer, comparativamente, o nível de complexidade logística entre as empresas comerciais e industrias pesquisadas.

O Quadro 1 apresenta o resultado final para a dimensão complexidade operacional, onde verifica-se que as empresas industrias são, em geral, logisticamente mais complexas do que as empresas comerciais. Se por um lado, as empresas comerciais geralmente apresentam um maior número de fornecedores e de SKU’s em seus estoques, as industriais, com suas fábricas, servem uma base maior de clientes, com mais produtos perecíveis, através de um maior número de armazéns. É importante ressaltar que a indústria, ao contrário do comércio, tem uma complexa logística de apoio a manufatura, a qual faz interface entre o processo de suprimento e o processo de distribuição.

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Segundo o modelo adotado, espera-se, portanto, que as empresas industriais, comparativamente às empresas comerciais, busquem desenvolver um maior nível de flexibilidade em seus sistemas logísticos para fazer frente à maior complexidade operacional, através de uma organização logística mais sofisticada.

QUANTO A AVALIAÇÃO DA FLEXIBILIDADE LOGÍSTICA

Nesta sessão será avaliado como o comércio e a indústria valorizam a flexibilidade em seus sistemas logístico, sendo esta a dimensão que melhor retrata as empresas de vanguarda logística, segundo o modelo conceitual adotado. A dimensão flexibilidade foi avaliada segundo o nível desejado e real. O Quadro 2 indica que os itens de flexibilidade podem ser de cunho mais operacional, como a crise de oferta no suprimento e a falha do sistema de computação, ou relacionada a capacidade da empresa em atender as especificidades de segmentos de clientes, como a customização do nível de serviço e o atendimento de condições especiais de embalagem e faixa horária de recebimento do pedido.

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Segundo o Quadro 3, as empresas industriais além de serem mais flexíveis, também desejam um nível de flexibilidade superior quando comparadas às empresas comerciais.

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É importante enfatizar que flexibilidade logística busca o estabelecimento de planos de contingências visando a manutenção das operações em situações extemporâneas. Por outro lado, busca-se também desenvolver a habilidade de se promover o atendimento diferenciado a clientes chave. No entanto, o que caracteriza o nível de sofisticação adequado da organização logística é a obtenção de flexibilidade com alto nível de eficiência. Neste sentido, verifica-se que as empresas de ambos os setores estão dispostas a aumentar a flexibilidade de seus sistemas logísticos, visando um atendimento mais focado às exigências dos clientes. O maior poder de barganha do comércio pode constituir em fator motivador para o desenvolvimento da organização logística por parte da indústria.

Em suma, conforme esperado, as empresas industriais, por experimentarem um maior nível de complexidade em suas operações, desenvolveram sistemas logísticos mais flexíveis do que as empresas comerciais, para fazer frente aos desafios relacionados tanto à manutenção do fluxo físico quanto àqueles voltados às necessidades de diferenciação mercadológica.

QUANTO A AVALIAÇÃO DA SOFISTICAÇÃO DA ORGANIZAÇÃO LOGÍSTICA

A seguir, pretende-se estabelecer o nível de sofisticação da organização logística do comércio versus a indústria. O nível de sofisticação da organização logística foi obtido a partir da resultante das dimensões formalização, monitoramento de desempenho e adoção de tecnologia, segundo o modelo conceitual adotado.

Nível de Formalização  A dimensão formalização foi apurada a partir de duas varáveis, o nível de controle que é atribuído às unidades responsáveis pela logística sobre os componentes logísticos, e o nível de estruturação organizacional formalizada, obtido em função da posição hierárquica do principal executivo da logística, do nível de participação em decisões estratégicas e da existência de missão e de planejamento logísticos.

O Quadro 4 indica que em 50% das empresas comerciais, o principal executivo da logística está localizado no 1º escalão da estrutura organizacional, enquanto na indústria, isto foi verificado em apenas 29% dos casos. Com relação ao nível de participação estratégica, o principal executivo da logística tem participação direta em 80% das empresas comerciais e 71% das empresas industriais. Por outro lado, o percentual de empresas com planejamento logístico formalizado é similar para os dois conjuntos de empresas. As empresas industriais só se destacam com relação às comerciais no que se refere a existência de missão logística. Ou seja, no cômputo geral, as empresas comerciais desenvolvem um nível de estruturação organizacional formalizada da logística superior às empresas industriais.

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Segundo o Quadro 5 o nível de controle da unidade funcional da logística sobre os componentes logísticos é maior nas empresas industriais do que nas comerciais. Este quadro apresenta o percentual de empresas da amostra que detêm controle total, parcial ou nenhum sobre os componentes logísticos. Quanto ao nível de controle total exercido pela estrutura funcional responsável pela logística, verifica-se que não existem diferenças significativas entre os dois conjuntos de empresas. No entanto, observa-se que existe um maior percentual de empresas industriais com controle parcial sobre os componentes logísticos do que as comerciais. Outra questão interessante é que o comércio concentra seu controle nas atividades de armazenagem e transporte, enquanto na indústria o controle sobre as atividades logísticas é mais homogêneo.

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Em suma, tanto as empresas comercias quanto as industriais apresentam um nível semelhante de formalização da logística.

Nível de Monitoramento de Desempenho  A dimensão de monitoramento de desempenho foi avaliada segundo o nível médio de insatisfação com o sistema de indicadores apresentado no Quadro 6, a seguir. Os resultados indicam que o nível de insatisfação com o sistema de monitoramento de desempenho é de aproximadamente 30%, tanto para o caso do comércio quanto para a indústria.

Altos níveis de insatisfação estão associados a todas as classes de indicadores, sendo que o comércio percebe as maiores carências no benchmarking e qualidade, enquanto a indústria aponta benchmarking e o serviço ao cliente em segundo lugar. É interessante observar, que estas classes de indicadores estão mais voltadas à interface das empresas, enquanto os demais se referem a mensuração tradicional de desempenho de recursos, utilizados pelas empresas. Estes dados refletem uma preocupação maior com os aspectos relacionados à cadeia de suprimento como um todo. Ou seja, o gerenciamento das atividades logísticas ganha uma abordagem mais ampla ao incluir, na agenda dos executivos, a busca por melhores práticas e a orientação ao cliente.

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Nível de adoção de tecnologia de informação – A dimensão adoção de tecnologia de informação foi avaliada com base em seis medidas, as quais estão apresentadas no Quadro 7.

Com relação ao número de aplicações de EDI, as empresas industriais apresentam 60% a mais do que as empresas comerciais. Esta medida determinou o maior nível de adoção de tecnologia por parte das empresas industriais.

Não foram encontradas diferenças significativas entre os grupos de empresas pesquisadas ao avaliar as outras variáveis da dimensão adoção de tecnologia. No entanto, vale ressaltar que, com relação aos softwares, o nível de insatisfação com relação às áreas de aplicação, a qualidade da informação disponível e o processo de implementação é bastante alto, ou seja, entre 32% a 43%.

Apesar do nível de insatisfação semelhante, a empresa comercial apresenta em média 23 áreas de aplicativos com softwares instalados, enquanto para a empresa industrial este número sobe para 27. No que tange aos hardwares operacionais e computacionais pesquisados, apesar de também não se verificar diferenças significativas entre os segmentos pesquisados, os níveis de insatisfação são muito altos, cerca de 48% e 40%, respectivamente. Os hardwares operacionais e computacionais considerados se relacionam com as etapas de captação, comunicação e distribuição de informações, as quais são inputs, ou outputs dos softwares instalados.

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Conclusão – A análise geral dos resultados demonstra que existe um alto nível de insatisfação com o fluxo de informação logístico das empresas, gerados a partir de hardwares operacionais e computacionais, e softwares. Estes níveis de insatisfação são coerentes com os níveis encontrados na dimensão monitoramento de desempenho, já que os sistemas indicadores são outputs do fluxo de informação gerados por softwares e hardwares.

Neste sentido, é importante considerar que existem vários obstáculos, interno e externamente à empresa, que dificultam o processo de adoção de novas tecnologias e contribuem para os altos níveis de insatisfação observados. A pesquisa identificou que a inexistência de figuras chave nas empresas que “patrocinem” a internalização de novas tecnologias e a demora na solução de problemas estão entre os mais importantes tanto para o comércio quanto para a indústria. No caso da indústria, a incompatibilidade com sistemas já existentes aparece como o principal obstáculo para a adoção de novas tecnologias de informação. Este fato evidencia a maior tradição no uso de tecnologia por parte das empresas industriais frente as comerciais.

AVALIAÇÃO GERAL DOS RESULTADOS DA PESQUISA

Os resultados de pesquisa também possibilitaram a análise agregada visando estabelecer uma comparação entre as empresas comerciais e industriais, a luz do modelo conceitual proposto. Esta análise foi feita a partir de matrizes 2 X 2, as quais procuram relacionar complexidade operacional, flexibilidade desejada e real, e sofisticação da organização dos sistemas logísticos. A sofisticação da organização logística sendo resultante das dimensões formalização, monitoramento de desempenho e adoção de tecnologia. Esta sessão tem como objetivo avaliar, de forma esquemática, o nível de consistência geral dos resultados de pesquisa face ao o modelo conceitual adotado.

O Figura 3 e Figura 4 apresentam a matrizes 2 X 2 com os resultados agregados, considerando o conjunto de empresas comerciais e o conjunto de empresas industriais, os quais relacionam a complexidade operacional à flexibilidade real e desejada do sistema logístico. De fato, observa-se que as empresas industrias, em geral ,têm operações mais complexas do que as comerciais e, também, apresentam e desejam maior flexibilidade logística. Ou seja, quanto maior o nível de complexidade operacional, maior a necessidade por flexibilidade logística.

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O Figura 5 relaciona a complexidade operacional com o nível de sofisticação da organização logística nas empresas. Isto é, as empresas industriais, mais complexas operacionalmente, apresentam um nível de sofisticação superior às empresas comerciais. No entanto, vale ressaltar que o maior nível de sofisticação da organização logística da indústria é devido ao maior nível de adoção de tecnologia de informação. E, conforme já ressaltado, o comércio detém o maior poder de barganha na cadeia de suprimento e constituí em fator importante para a introdução de tecnologia, por parte da indústria. Ou seja, a evolução da organização logística em empresas industriais pode estar sendo impulsionada, em grande medida, por exigências do comércio.

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Os resultados indicam que a indústria tende a desenvolver um nível de sofisticação da organização logística superior ao comércio. Segundo o Figura 6, o modelo se confirma a partir da constatação de que um maior nível de sofisticação da organização logística está relacionado diretamente com o nível de flexibilidade do sistema logístico. Neste sentido, o gap de flexibilidade, tem grandes oportunidades de redução a partir de maiores investimentos em tecnologia, que por seu turno pode reverter em melhor monitoramento de desempenho, e conseqüentemente, proporcionar uma maior formalização e controle da organização logística.

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Em suma, os resultados desta pesquisa apontam para uma série de oportunidades em termos de tecnologia de informação visando o aperfeiçoamento do sistema logístico das empresas. No entanto, é importante frisar que o sucesso de mudanças está diretamente relacionado a uma abordagem sistêmica com relação as dimensões que resultam na capacitação logística nas empresas.

Por exemplo, os efeitos positivos advindos de uma nova tecnologia de informação terão melhores chances de materialização quanto melhor estruturada estiver a área de logística dentro da organização da empresa, seja do ponto de vista funcional, seja pela existência de sistemas de indicadores abrangentes. A existência de dificuldades para a introdução de novas tecnologias de informação, conforme observada na pesquisa, pode ter sua raiz no fato de não haver equilíbrio entre as dimensões que caracterizam o nível de organização logística das empresas, quais sejam: formalização, monitoramento de desempenho e adoção de tecnologia.

Como constatação final sobre a robustez do modelo conceitual testado nesta pesquisa, o Quadro 8 revela o melhor desempenho logístico da indústria quando comparado ao comércio.

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Este resultado está consistente com as conclusões que apontam a indústria como tendo uma organização logística superior ao comércio.

PERSPECTIVAS PARA AS EMPRESAS COMERCIAIS E INDUSTRIAIS

A seguir, estão apresentadas as tendências de evolução da organização logística em empresas comerciais e industriais delineadas a partir de informações acessórias coletadas na pesquisa.

  • A importância do serviço de distribuição nas decisões de compra do comércio continuará em ascensão nos próximos anos. Esta tendência consiste em importante força encadeadora de mudanças futuras, no sentido upstream, ao longo de toda a cadeia de suprimento de alimentos.

Como resultado desta força motriz, a estrutura das organizações logísticas de vanguarda se apresentam mais abertas ao relacionamento estável ao longo da cadeia, permitindo maiores avanços gerenciais e operacionais. O foco dos executivos estará concentrado na busca por produtividade, mantendo altos níveis de serviço, em mega processos que transcendem as fronteiras tradicionais das empresas. Neste sentido, crescerá o nível de utilização de tecnologia de informação para dar suporte ao esforço de integração de processos.

  • O poder de barganha na cadeia de suprimento de alimentos tende a se consolidar junto às grandes redes de varejo. Como conseqüência, aumentará a necessidade de desenvolvimento de mecanismos, por parte da indústria, para melhor conhecer as exigências de serviços de distribuição física, assim como o desempenho percebido pelo comércio.

É importante frisar que a satisfação do cliente é resultante da comparação entre expectativas e percepções de desempenho, sendo que as exigências estão em movimento espiral crescente. Portanto, manter-se competitivo significa obter algo a mais do que alto desempenho operacional. Implica no desenvolvimento de uma organização logística sensível à dinâmica do mercado, capaz de responder aos desafios através de uma estrutura altamente flexível.

  • Percebe-se um forte movimento no comércio no que diz respeito ao aperfeiçoamento da organização logística. Esta tendência resultará em pressão ao longo de toda a cadeia por maior eficiência. As grandes redes de varejo demandarão maior foco em suas operações, o que aumentará a necessidade de segmentação logística por parte da indústria, com vistas a customização dos níveis de serviços prestados.

Para atender a crescente diversidade de “pacotes” de serviços de distribuição, a indústria deverá buscar um maior grau de flexibilidade através de uma maior sofisticação da organização do sistema logístico. Neste sentido, as deficiências observadas em termos de sistemas de indicadores de desempenho deverão ser sanadas através da implementação de sistemas de informação de suporte à decisão gerencial, visando melhor direcionar os esforços de melhorias nas empresas.

  • As condições básicas para a implementação do ECR começam a se materializar. O alto percentual de empresas que afirmaram estar integrando as informações geradas pelos PDV’s aos sistemas associados a emissão de pedido a fornecedores e ao controle de estoque, e que estão interligando-se com seus fornecedores via EDI indicam que passos importantes estão sendo dados no sentido da integração da cadeia de suprimento.

Por outro lado, existem boas perspectivas para o relacionamento cooperativo entre o comércio e a indústria, segundo informações obtidas na pesquisa:

– ambas as partes reconhecem o EDI como fator importante para o desenvolvimento de parceria;
– existe o reconhecimento, tanto pelo comércio quanto pela indústria, da importância das parcerias no desenvolvimento dos programas de ECR, quais sejam: sortimento de produtos nos pontos de venda, sistemas de ressuprimento, promoções e introdução de novos produtos;
– o relacionamento atual do comércio com seus fornecedores tende à cooperação;
– o nível de comunicação entre as partes no nível operacional acontece com razoável freqüência;
– têm havido mudanças organizacionais para a viabilização de parcerias.
CONCLUSÃO

Tanto o comércio quanto a indústria já despertaram para a importância do conceito de logística integrada. Alguns indicadores sobre esta conscientização já se fazem claros nesta pesquisa, notadamente nos aspectos relacionados a dimensão formalização:

  • O nível hierárquico do principal executivo da logística, na maioria dos casos, se encontra no primeiro ou segundo escalão, com participação efetiva em decisões estratégicas das empresas.
  • É substancial o percentual de empresas que indicam ter a missão logística formalizada e escrita, apesar do pequeno número de empresas que efetivamente desenvolvem o planejamento estratégico da logística.
  • O controle sobre o sistema logístico atualmente não se restringe apenas às áreas tradicionais de armazenagem e transporte. Este controle já está se difundindo amplamente aos componentes logísticos de estoque, processamento de pedidos, e compras/planejamento da produção (no caso das indústrias). No entanto, o serviço ao cliente, em grande medida, ainda se encontra fora da área de influência da organização formal da logística nas empresas.

Por outro lado, muito se encontra por fazer quando avaliamos as dimensões monitoramento de desempenho e adoção de tecnologia de informação, tanto para o comércio quanto para a indústria:

  • Os níveis de insatisfação com os sistemas de indicadores são muito elevados, isto é, cerca de 30%.
  • Os níveis de insatisfação com softwares e hardwares encontram-se acima de 40%.

Conforme mencionado na sessão anterior, estes níveis de insatisfação são coerentes, já que os sistemas de indicadores são gerados a partir do fluxo de informação resultante dos softwares e hardwares.

No entanto, considerando a avaliação geral sobre o estágio de evolução da organização logística, a pesquisa aponta para evidências de que as empresas industriais são mais sofisticadas do que as comerciais, principalmente devido a dimensão relacionada a adoção de tecnologia. Ou seja, as empresas industriais estão mais desenvolvidas do que as comerciais no que se refere ao conteúdo tecnológico voltado às atividades logísticas.

Este resultado confirma as expectativas geradas pelo modelo conceitual adotado, quais sejam: as empresas industriais, devido ao ambiente operacional mais complexo, desenvolveram um maior nível de sofisticação da organização logística do que as empresas comerciais, com o objetivo de gerar um maior nível de flexibilidade para tornar-se mais competitivas. Ou seja, as condições que envolvem as empresas industrias fazem com que o padrão de desenvolvimento da organização logística esteja mais avançada do que o padrão observado em empresas comerciais.

Considerando a cadeia de suprimento, se por um lado, a indústria apresenta um maior conteúdo tecnológico do que o comércio, é este último que está “puxando” sua implementação. Ou seja, às exigências por melhores níveis de serviço e eficiência operacional, por parte do comércio, consiste em fator motivador para o maior nível de adoção de tecnologia, por parte da indústria. Este fato é corroborado pelos resultados obtidos na pesquisa: a indústria afirma que o poder de barganha na cadeia de suprimento reside no comércio, assim como reconhece no comércio a maior fonte de influência para a introdução de novas tecnologias. No entanto, vale ressaltar que existe espaço para melhoria nesta dimensão, já que o nível de insatisfação encontrado é muito alto, acima de 40%.

A análise geral realizada por meio de matrizes 2×2 demonstrou de maneira esquemática a aplicabilidade do modelo conceitual adotado para esta pesquisa. Ou seja, as empresas industriais, por serem mais complexas, buscam um maior nível de flexibilidade em suas operações, que por seu turno, é alcançado por meio de uma maior sofisticação da organização logística.

As perspectivas de desenvolvimento da organização logística na cadeia de suprimento de alimentos aponta para avanços no desenvolvimento de integração entre empresas industrias e comercias.

BIBLIOGRAFIA

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Autores: Paulo Fleury e Cesar Lavalle 

https://ilos.com.br

Fundador do ILOS. Engenheiro Mecânico pela UFRJ, possui os títulos de M.Sc. em Engenharia de Produção pela COPPE/UFRJ e Ph.D. em Administração Industrial pela Loughborough University of Technology, Inglaterra. Professor Fleury foi Diretor e Superintendente Geral da Agência de Desenvolvimento Econômico do Estado do Rio de Janeiro, AD-Rio. Visiting Scholar da Harvard Business School, conferencista convidado da Sloan School of Management, MIT e participante do Teachers Training Program do Insead – Fontainebleau. É membro do Council of Supply Chain Management Professionals e da European Operations Management Association. Possui cerca de 150 trabalhos publicados em periódicos e livros nacionais e internacionais, e tem mais de 25 anos de experiência de ensino e consultoria nas áreas de Estratégia de Operações e Logística Empresarial. Seu portfólio de clientes é composto por mais de duzentas empresas, de grande porte, listadas entre as quinhentas maiores do Brasil. É membro do Conselho de Administração de importantes empresas brasileiras do setor de logística.

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