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Ações para minimização da contaminação em operações fundamentais

Nas últimas semanas, muitos de nós, seguindo a recomendação das autoridades, estamos nos mantendo em isolamento social e tentando trabalhar em home office, da maneira mais produtiva possível com o apoio da tecnologia, no intuito de evitarmos a disseminação do coronavírus.

Neste momento, operações industriais e logísticas também começam a sofrer interrupções por conta da epidemia e, logicamente, pela natural diminuição no consumo de determinadas categorias.

No entanto, algumas operações são essenciais para a sociedade e não podem parar, como a indústria farmacêutica, de alimentos e bebidas, além, obviamente, das operações hospitalares e de segurança pública. Também operações de varejo, sobretudo de comércio eletrônico e delivery, têm sido desafiadas pelo incremento de demanda resultante da recomendação de isolamento social.

Um dos grandes desafios para estas operações é minimizar a possibilidade de contágio entre funcionários, uma vez que estes podem contrair a virose fora do ambiente de trabalho e disseminá-la antes de apresentar os primeiros sintomas, afetando muitas vezes a continuidade operacional de uma fábrica ou centro de distribuição.

Para além das medidas já adotadas de proteção individual, como uso de máscaras, luvas e demais EPIs, e higienização frequente com álcool gel, que outras medidas poderiam ser adotadas por empresas que precisam manter suas operações em funcionamento, garantindo a continuidade em um cenário de prolongamento da crise?

Minimização da contaminação - ILOS Insights Figura: A logística precisa continuar trabalhando para que não falte produto aos brasileiros. Fonte: Terri Sharp por Pixabay

Para responder a esta pergunta, podemos buscar inspiração em operações diferenciadas, que precisam adotar medidas de continuidade e proteção das equipes em situação de insalubridade e/ou periculosidade, como equipes embarcadas, ações militares e hospitais de campanha.
Parte das medidas apresentadas abaixo são contrárias às boas práticas de produtividade operacional, mas visam, mesmo que a um custo mais alto, evitar a descontinuidade de uma operação neste momento de crise.

Constituição de Equipes “Isoladas”

Na China, foram usados mecanismos tecnológicos sofisticados, a partir da geolocalização dos celulares e mecanismos de IA, para classificar o risco de contágio das pessoas a partir de suas movimentações e contatos com outras pessoas potencialmente infectadas, permitindo ações de afastamento e isolamento mais precisas e impedindo impactos maiores nas operações das empresas.

Na impossibilidade tecnológica e legal de realizar este rastreio nos times operacionais, uma das formas para evitar a rápida disseminação da doença em uma operação é a formação de equipes de trabalho que não tenham contato com outras, permitindo uma quarentena seletiva em caso de suspeita de contaminação de algum membro. Por exemplo, os times de entrega, formados por motorista e ajudantes, não devem sofrer modificações e permanecer sempre os mesmos.

Este mesmo conceito pode ser expandido para operações fabris, formando equipes fixas por linhas de produção, e de armazenagem, quando possível for separar linhas de picking ou as atividades de recebimento, movimentação e expedição. O ideal é que as equipes isoladas sejam compostas por pequenos grupos de 5 a 8 pessoas, facilitando o rastreio de suspeitos e evitando um impacto significativo na operação. Um exemplo de como fazer isto é definir o time da “linha de produção 3 do turno 1”, com operador de máquina, supervisor de linha, abastecedores e técnico de manutenção, que será sempre o mesmo e não terá contato com as demais equipes.

Naturalmente, esta “especialização” forçada retira flexibilidade da operação e leva a um aumento dos recursos necessários para realizá-la. Algumas vezes, não é possível a formação de grupos tão pequenos, nem útil pela natureza da operação, que obriga o contato entre os diferentes times. Nestes casos, seria possível expandir o conceito de grupos “isolados” para toda equipe operacional de um turno, jamais misturando pessoas entre turnos.

Cuidados nas Trocas de Turnos

Não adianta o isolamento das equipes durante suas atividades sem o devido cuidado em momentos de possível contato, como a troca de turno. É necessário fazer um escalonamento para a saída/entrada de cada equipe em um horário diferente, com intervalos de 10 a 15 minutos entre saídas e entradas, de forma que seja possível a higienização e sanitização de banheiros e vestiários.

Obviamente, este processo torna a troca de turnos muito mais longa e, por isso, é necessário um planejamento prévio e ajuste nos horários de trabalho. Para empresas que organizam o transporte para seus funcionários, é importante a manutenção do isolamento das equipes nesta operação, podendo obrigar uma troca dos ônibus por veículos menores, como micro ônibus e furgões, todos devidamente higienizados quando da entrada de uma nova equipe no veículo. Se mantidos os ônibus maiores, convém alternar os assentos, garantindo o distanciamento dos funcionários, o que resultará na necessidade de veículos adicionais.

Supervisão e Reuniões com Times Operacionais

Outro momento de possível contato e disseminação da virose são as reuniões de supervisão e orientação, que precisam ser repensadas. Novamente, tanto quanto possível, os times “isolados” precisam ser orientados individualmente, sem grandes reuniões matinais/vespertinas com todos na mesma sala. Algumas empresas estão realizando as reuniões em áreas abertas, como pátios e estacionamentos, com distanciamento entre as equipes.

No entanto, é necessário reconhecer a figura do supervisor/coordenador de operações e/ou linha de produção como um importante vetor de disseminação, uma vez que potencialmente tem contato com as várias equipes e poderia servir de “ponte” de contaminação entre elas.
Assim, esta figura passa a ser crítica para a continuidade operacional, devendo estar sempre com todos os EPIs necessários para a sua proteção e de suas equipes, como luvas, óculos, máscara e capote, evitando sistematicamente o contato físico e sendo transportado, sempre que possível, individualmente para sua residência com veículos da frota e/ou alugados.

Equipes de Venda e Entrega

As estruturas mais vulneráveis da operação, sem dúvida alguma, são as equipes externas, seja de vendas ou entregas e, por isso, a necessidade de cuidado redobrado com elas. Como entram em contato com outras operações e/ou com o consumidor final, a exposição ao vírus é muito maior e a chance de contaminação da unidade operacional em que estão baseados é relativamente grande. Além da responsabilidade social para não disseminação da doença na população isolada.

Por isso, entregadores e motoristas devem estar equipados com todos os EPIs, ter as cabines dos veículos higienizadas frequentemente e usar álcool gel para higienização das mãos a cada entrega, valendo o mesmo cuidado para entrega comercial ou residencial, inclusive para entregadores de pequenos comércios locais e de empresas de entrega urbana, como Loggi, iFood e outras.

Além disso, estas equipes não devem ser modificadas entre turnos e dias de trabalho e precisam ser isoladas das equipes de operação interna de fábricas e centros de distribuição. Entregadores individuais devem ser orientados a não terem contato uns com os outros.

Dark Store/Dark Kitchens

Falando agora de operações de lojas e restaurantes, em grande parte já sofrendo restrições de funcionamento, as medidas acima de isolamento e proteção das equipes também são benvindas. Mesmo os que mantêm as portas abertas ao público sofrem com a redução das vendas presenciais, compensada em parte pelo aumento das operações de delivery.

Neste cenário, pode ser interessante, ou mesmo vital, experimentar operações conhecidas como dark store e dark kitchen, quando lojas e restaurantes estão fechados para o público, operando como um mini centro de distribuição/produção de alimentos para a entrega.

O custo operacional de manter as lojas abertas não compensa para o volume de vendas presenciais e as operações de separação de mercadoria para entrega residencial tornam-se muito ineficientes. Ou seja, não ocorrem quase vendas presenciais e não é possível dar um bom atendimento, ou mesmo atender a demanda, do cliente que solicita a entrega dos produtos em sua residência.

As operações fechadas, ou “escuras” do termo em inglês, permitem um incremento excepcional de produtividade na separação e envio dos produtos para os clientes, viabilizando o atendimento da maior demanda, sem gerar perdas significativas neste momento. Além disso, preserva as equipes de contato com o público externo e evita a contaminação.

Farmácias, mercearias, restaurantes e mesmo lojas de grandes cadeias varejistas podem se beneficiar imensamente desta prática enquanto durar o isolamento forçado pela Covid-19.

Esperamos que as práticas aqui sugeridas possam ajudá-los na manutenção de operações fundamentais, garantindo a saúde de nossos heróis da operação e o abastecimento da população isolada.

https://ilos.com.br

Sócio Executivo do ILOS. Graduado em Engenharia de Produção pela EE/UFRJ, é Mestre em Administração de Empresas pelo COPPEAD/UFRJ com extensão na EM Lyon, França, e doutor em Engenharia de Produção na COPPE/UFRJ. Tem diversos artigos publicados em periódicos e em revistas especializadas, sendo um dos autores do livro: “Previsão de Vendas: Processos Organizacionais & Métodos Qualitativos e Quantitativos”. Suas áreas de pesquisa são: Planejamento da Demanda, Serviço ao Cliente no Processo Logístico e Planejamento de Operações. Atuou durante 8 anos no CEL-COPPEAD/UFRJ, ajudando a organizar a área de Ensino em Logística. Em consultoria, realizou diversos projetos na área de logística, como Diagnóstico e Plano Diretor, Previsão de Vendas, Gestão de Estoques, Planejamento da Demanda e Plano de Capacitação em empresas como Abbott, Braskem, Nitriflex, Petrobras, Promon IP, Vale, Natura, Jequití, entre outras. Como professor, ministrou aulas em empresas como Coca-Cola, Souza Cruz, ThyssenKrupp, Votorantim, Carrefour, Petrobras, Vale, Via Varejo, Furukawa, Monsanto, Natura, Ambev, BR Distribuidora, ABM, International Paper, Pepsico, Boehringer, Metrô Rio, Novelis, Sony, GVT, SBF, Silimed, Bettanin, Caramuru, CSN, Libra, Schlumberger, Schneider, FCA, Boticário, Usiminas, Bayer, ESG, Kimberly Clark e Transpetro, entre outras.

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