HomePublicaçõesInsightsA colaboração horizontal nas cadeias de suprimento

A colaboração horizontal nas cadeias de suprimento

Um conceito frequente quando se fala em colaboração na cadeia de suprimentos é a “colaboração horizontal”. A colaboração horizontal nada mais é do que a colaboração logística entre duas ou mais empresas, com o objetivo de gerar benefícios para ambas, o que não seria possível de forma independente. Se a colaboração vertical diz respeito a cooperação entre elos da mesma cadeia (como indústria e seus fornecedores, ou indústria e varejo), o termo “horizontal” se refere a colaboração entre entidades de cadeias diferentes, possível até mesmo entre organizações concorrentes.

Alguns exemplos de colaboração horizontal são o compartilhamento de centros de distribuição e o compartilhamento de recursos de transporte. Empresas cujas restrições de transporte se complementam (carga que estoura em peso e carga que estoura em cubagem, por exemplo) têm o potencial de otimizar suas operações se atuarem de forma conjunta. O uso mais eficiente dos recursos de transporte também impacta na redução de emissões de carbono, uma vez que a mesma carga é transportada em menos viagens.

Um caso bem conhecido de colaboração horizontal é o da P&G e da Tupperware na Europa. Ambas possuíam fábricas na Bélgica e centros de distribuição na Grécia, porém enquanto o transporte de detergentes da P&G estourava em peso, a carga de potes de plástico da Tupperware era restrita pelo volume dos produtos. A P&G utilizava uma combinação dos modais rodo e ferroviário, e a Tupperware fazia uso exclusivo do transporte rodoviário, mais rápido do que a combinação de modais da P&G, porém com uma menor frequência de envios. Ao tirar proveito da sinergia entre as rotas das empresas com o transporte compartilhado, seguindo a estratégia multimodal da P&G, os custos logísticos combinados de ambas as empresas reduziram em 17%, e as emissões de carbono em 30%. Além disso, apesar dos leadtimes mais longos do transporte multimodal, houve um aumento do nível de serviço da Tupperware, por conta da maior frequência de envios da P&G.

A busca por iniciativas de colaboração entre indústrias é bem difundida na Europa, em grande parte pela influência do governo e pressões pela redução das emissões de carbono. Em 2013 a Comissão Europeia fundou o projeto CO3 – Collaboration Concepts for Co-Modality, cujo objetivo foi desenvolver ferramentas e padrões para incentivar embarcadores e operadores logísticos a buscar e implementar oportunidades, de forma a profissionalizar a colaboração horizontal. Alguns dos casos de sucesso do projeto incluem o transporte compartilhado de produtos refrigerados da Nestlé e da Pepsico na Bélgica e em Luxemburgo; a colaboração entre a Mars, United Biscuits, Saupiquet e Wrigley na França; e o compartilhamento de transporte entre produtos plásticos da JSP com discos de freio da HF-Czechforge da República Checa até a Alemanha.

Aqui no Brasil é conhecido o caso da Ambev. Após abastecer os centros de distribuição da empresa, os caminhões voltam com as cargas dos parceiros ao invés de vazios. No fim do ano 2016, a lista de parceiros da Ambev chegou a 20, incluindo empresas como a Heinz, Unilever, PepsiCo, entre outras, com uma média de 3.000 viagens mensais compartilhadas. A empresa reportou uma economia de 5 milhões de litros de diesel e deixou de lançar 3 mil toneladas de gás carbônico em 2015.

Apesar dos benefícios constatados, seja na redução de custos, no aumento do nível de serviço ou na redução de emissões de carbono, há pontos de atenção para se atingir esse tipo de colaboração. Além do desafio de encontrar um embarcador compatível com as operações da empresa, processos precisam ser mudados, uma integração de TI pode ser necessária, e o compartilhamento de informações pode ser uma questão delicada. No caso da Nestlé e da PepsiCo, por exemplo, o projeto começou envolvendo cinco empresas, mas três desistiram. A conformidade com as leis antitruste também foi um ponto crucial, uma vez que as empresas são concorrentes, e informações detalhadas poderiam ser compartilhadas apenas entre cada empresa e o operador logístico, mas não entre elas.

Não há dúvidas de que há potenciais de ganho em operações compartilhadas, porém questões como o compartilhamento de informações e a divisão de ganhos devem ser tratadas com transparência para mitigar riscos e garantir que a colaboração seja um processo sustentável.

 

Referências:

Supply Chain Digest – More Developments in “Horizontal Collaboration”. <http://www.scdigest.com/firstthoughts/16-06-03.php?cid=10784>

Inbound Logistics – Collaborative Distribution: Taking Off the Training Wheels. <http://www.inboundlogistics.com/cms/article/collaborative-distribution-taking-off-the-training-wheels/>

Collaboration Concepts for Co-modality – Case studies. <http://www.co3-project.eu/latest-info/news/>

Ambev – Ambev busca empresas para programa Frota Compartilhada. <http://www.ambev.com.br/imprensa/releases/ambev-busca-empresas-para-programa-frota-compartilhada/>

5 anos de experiência em projetos de consultoria em Logística e Supply Chain. Atuou em projetos de otimização de rede logística, custo de servir, plano diretor logístico, definição de política de estoque, previsão de vendas, S&OP (Sales and Operations Planning) e planejamento e gestão de transportes.

Cadastre-se e receba conteúdos exclusivos e atualizações de mercado

Mantenha-se informado sobre as últimas tendências e tecnologias em Logística e Supply Chain

Rio de Janeiro

Tv. do Ouvidor, 5, sl 1301
Centro, Rio de Janeiro – RJ
CEP: 20040-040
Telefone: (21) 3445.3000

São Paulo

Alameda Santos, 200 – CJ 102
Cerqueira Cesar, São Paulo – SP
CEP: 01419-002
Telefone: (11) 3847.1909

© Todos os direitos reservados para ILOS – Desenvolvido por Design C22